Equador. Estado de emergência devido a guerra entre cartéis

Os grandes cartéis mexicanos começaram a apoiar gangues locais e o Presidente, apanhado nos Pandora Papers, meteu os militares na rua. 

Perante um pico nos homicídios e sucessivas guerras entre gangues no Equador, o Presidente Guillermo Lasso – que está a ser investigado pelo Congresso após ser apanhado nos Pandora Papers – decidiu declarar estado de emergência, colocando as Forças Armadas nas ruas, a partir desta terça-feira, a pretexto de combater o narcotráfico.

Este “estado de emergência por grave comoção interna em todo o território nacional”, nas palavras de Lasso, estará em vigor pelo menos 60 dias. Daremos às forças da ordem o apoio necessário para levar a cabo a sua luta contra o crime”, declarou o Presidente, citado pelo Comercio, prometendo que tanto os militares como as forças de segurança farão revistas à procura de armas e droga, rusgas e patrulhas continuas.

Além disso, também serão postas em vigor medidas para que os agentes não possam ser responsabilizados por delitos cometidos no decorrer destas ações, tendo o Presidente prometido indultar polícias já condenados noutras ocasiões. “A lei deve intimidar o delinquente, não o polícia”, salientou Lasso.

 

Ocasião certa Este estado de emergência surge num momento crucial para o Presidente do Equador, um ex-banqueiro conservador, que está sem maioria no Congresso, uma semana após sugerir dissolver esse órgão. Anteriormente estava em estado de graça, pelo rápido ritmo da vacinação equatoriana, mas isso foi abalado pela revelação de que mantivera 14 sociedades offshore, sediadas sobretudo no Panamá, mostram os Pandora Papers, segundo a Folha de S. Paulo.

O Presidente mantém que fez tudo dentro da legalidade. Mas o Congresso equatoriano está a investigar se este de facto cumpriu com a lei promulgada pelo seu antecessor, Rafael Correa, em 2017, que proibia quaisquer candidato presidencial de manter contas offshore.

Seja a declaração de estado de emergência uma manobra de distração de Lasso ou não, o certo é que o Equador enfrenta um problema gravíssimo de criminalidade organizada.

Tragédias como a de Sebastián Obando, uma criança de 11 anos morta por um bala perdida enquanto comia um gelado, num confronto entre polícias e criminosos, em Guayaquil, este domingo, têm chocado a opinião pública. Deixando os equatorianos bem consciente que a taxa de de homicídios está a subir – os dados oficiais mostram que só entre janeiro e agosto de 2021 houve mais homicídios que no ano anterior inteiro, segundo a France Press – e que o seu país se está a tornar um eixo no tráfico internacional de droga, estimando-se que mais de um terço da cocaína vinda da vizinha Colômbia passe por por ali.

A questão é que “muitos grupos separaram-se, e agora aparecem novos líderes”, notou o perito em segurança Jhon Garaicoa, ao jornal equatoriano Expreso. É algo que despoletou uma sangrenta guerra por território, onde cada um dois principais cartéis mexicanos – o Cartel Sinaloa e o seu rival, o Cartel de Jalisco Nova Geração (CJNG) – apoia fações locais, numa espécie de conflito por procuração. 

É uma guerra que se trava não só nas ruas, mas também dentro das prisões, que funcionam como um centro de recrutamento para os gangues. Aliás, o Equador tem sido abalado por motins carcerários, orquestrados em simultâneo. A mais mortífera destas rebeliões ocorreu na Penitenciária do Litoral de Guayaquil, no sudoeste do país, causando 118 mortos, num confronto entre os Choneros, apoiados por Sinaloa, e outros gangues como os Tiguerones, Lobos e Lagartos, apoiados pelo CJNGC.