Chega um dia em que sentimos que os nossos filhos já não precisam de estar sempre ao pé de nós para se sentirem seguros. A curiosidade vai aguçando e de dia para dia vão dando mais um passo sozinhos na exploração do mundo. Com a chegada da pré-adolescência, esta mudança é ainda mais notória, e nem sempre fácil ou pacífica.
Por maior que seja o desejo de crescer, de ser independente e autónomo, o receio de deixar a infância está sempre lá. Quanto mais seguros se sentem, mais confiantes se encontram para ir em busca do desconhecido. Mas a viagem é quase sempre turbulenta. Do outro lado, os amigos, o mundo, a adolescência e adultícia, mas também o receio de estar sozinho, do que não se sabe nem se vê, de assumir a responsabilidade das suas escolhas. Para trás fica o colo, a segurança, a proteção e o aconchego.
Ante o desejo de prosseguir, às vezes impõe-se a angústia, a ansiedade, o medo, a culpa, e fica-se nesse limbo, entre o passado e o futuro. Se a relação com os pais é suficientemente forte, então o adolescente acabará por encontrar forças e coragem para prosseguir. A certeza de que os pais continuarão lá, independentemente de se ir até ao fim do mundo, de saber que o guardam e que os pode levar consigo, dá-lhe segurança para abrir caminho por esse mundo novo.
Mas se é a insegurança que impera, é possível que este passo seja mais difícil de dar e que os sentimentos de culpa e angústia sejam tão grandes que se vacile perante o receio do que poderá acontecer. O medo supera o desejo e o desenvolvimento psicológico estagna.
É importante estar atento e acompanhar esta nova fase que precisa de tanta dedicação como qualquer outra. Nem sempre é fácil, porque estas dúvidas, inseguranças e receios às vezes manifestam-se de forma tempestiva ou conflituosa. O dom do discernimento, da autorregulação e da palavra ainda estão em desenvolvimento e é através do comportamento, nem sempre o mais adequado, que se expressa a frustração, as dúvidas e angústias. Todos sabemos que crescer não é fácil. Implica necessariamente restruturação familiar, revisão de regras, de limites. Mudança de postura e muita compreensão. Talvez os ídolos dos nossos filhos já não sejamos nós e os gostos comecem a divergir. Há que saber continuar a dar o exemplo e a mostrar o nosso lado, mas sem o impor. Sem abandonar, continuando a traçar limites que vão sendo adequados a cada altura e que acompanhem este movimento. O colo tem de ser outro.
Não queremos Peter Pans por casa, que não consigam arriscar crescer e se fiquem pela Terra do Nunca. Essa terra é divertida e segura, de perigos há só o Capitão Gancho, com quem já aprenderam a lidar. Mas a Terra do Nunca é uma ilha fechada, onde nunca não acontece nada de novo. É no mundo lá fora que está o entusiasmo, a novidade, as novas escolhas, o arriscar, o encontro com a vida adulta. É esse o caminho que temos de os apoiar e encorajar a percorrer.