Tudo começa num estúdio de televisão, onde se discutem eventuais ‘notícias’ que irão para o ar nos minutos seguintes. O twist é que não importa se as notícias são ou não verdadeiras e a se informação é mais ou menos manipulada, o que importa é que dê views, audiência e popularidade. A peça gira em torno de um pivô que se debate entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira.
Mas o que é a verdade? É nisto que Marco Pedrosa, Alexandre Ovídio e Michelle Ribeiro querem pôr o público a pensar. São os três atores, o primeiro é também encenador e o segundo guionista e sobem ao palco com o objetivo iniciar uma reflexão sobre aquilo que vemos diariamente, quer seja na televisão, nos jornais ou nas redes sociais.
«Inicialmente o objetivo era fazer uma série», explica Marco Pedrosa em conversa com a LUZ. No entanto, devido à pandemia, o processo acabou por não avançar e depois de ter sido pedido apoio à DGARTES, seguiu em frente mas, desta vez, em forma de peça de teatro.
Marco considera que, «por estarmos perante uma situação em que temos muitos meios de informação diversos – desde a televisão às redes sociais», os cidadãos começam cada vez mais a desconfiar daquilo que veem, e sublinha os estudos que já foram feitos e que mostram «como anda a circular por aí muita informação que é falsa, manipulada e fabricada».
Antigamente, «nós tínhamos uma confiança extrema na figura do pivô e no órgão de comunicação», refere o encenador, que acaba por comparar essa fiabilidade com aquilo a que se assiste atualmente: «Não podemos dizer o mesmo de toda a informação que gira à volta disso».
Alexandre Ovídeo assume que quando se deparou com a ideia de Marco Pedrosa, foi imediatamente «posto à vontade» pelo encenador para escrever o texto, chegando à conclusão de que «o conceito das notícias falsas é uma porta de abertura para conhecermos melhor o mundo em que vivemos».
«A perceção que nós temos de que existem notícias falsas serve a dois senhores», começa por explicar o guionista: «Por um lado dá-nos lucidez e faz-nos não acreditar em coisas que são obviamente falsas mas, por outro, acabamos também por desconfiar de tudo aquilo que nos chega, mesmo que seja verdadeiro». Alexandre relembra também o político norte-americano, Donald Trump, que rotulou de «fake news» todas as notícias que falavam mal dele.
«Então, também essa perceção de que tudo pode ser uma notícia falsa é uma porta perigosíssima para os novos populismos», remata.
O guionista explica que o objetivo da peça não foi fazer algo «panfletário, que dissesse ‘estes são os bons, estes são os maus’, ou sectário, uma vez que, quando surge esta polarização, torna-se impossível que um lado veja o outro, mas isso interessa alguém».
Marco Pedrosa refere ainda que «a ideia que está por trás desta peça é algo assustadora: a de que há um poder oculto que manipula e controla». No entanto, como não se sabe se é realmente isto que acontece ao não, o encenador explica que o que foi feito foi «atirar, ‘assim à maluca’, essas hipóteses para o ar».
Mas não foi apenas em «atirar hipóteses para o ar» que se baseou a peça de teatro Fake News – A Fábrica de Notícias. Também os espetadores que se sentavam nas cadeiras do auditório do Museu da Farmácia foram convidados a apresentar o seu ponto de vista em relação a determinados assuntos que eram referidos durante o espetáculo.
Além do lado lúdico e intrinsecamente ligado ao entretenimento, esta peça convida os espetadores a refletirem sobre aquilo que observam diariamente.
«Durante os ensaios fui várias vezes partilhando com os meus colegas que nós tínhamos a obrigação de fazer esta peça», confessa Alexandre. «Face ao que está a acontecer no mundo, face ao que está a acontecer em Portugal, agora que o Marco teve aquela ideia, deixar isto só para nós e não o partilhar com ninguém, seria algo que me afligiria», acrescentou.
A peça estará em cena todas as quintas-feiras até dia 11 de novembro e os bilhetes podem ser comprados através do site da Ticketline.