Por Francisco Mota – Historiador, Gestor de projetos
Em Portugal não se discute política. Os seus protagonistas estão mais preocupados na manutenção do seu poder, do que propriamente em serem instrumentos ao serviço do povo. Não marcam agenda, vivem de falsos moralismos e unicamente alimentam por vaidade protagonismo e ‘status quo’ entre os corredores dos interesses.
Da esquerda à direita os líderes deram lugar a gestores de circunstância, que apenas reagem ao momentâneo. Portugal é hoje palco de atores e atrizes medíocres, sem sentimento patriótico e de um profundo individualismo vocacionado para a intriga, guerrilha partidária e insulto, que em nada interessa ao comum dos mortais.
A política deixou de ser humanizada e vivemos um período no mínimo estranho, sem referências e com uma incapacidade de termos políticos com mensagens sólidas e autênticas.
Estamos perante um novo tempo em que a liberdade nos assusta, simplesmente porque temos medo de ser livres. A autenticidade, as convicções e os valores estão embebedados pelo mundo dos vícios virtuais, que nos dita aquilo que a perceção social quer que sejamos. O divórcio da maioria dos portugueses dos partidos políticos e o contínuo crescimento do absentismo, são um fundo preocupante e perigoso que começa a evidenciar populismos mais radicais. É urgente uma verdadeira regeneração, mas dispensa quem se pretender limitar a gerir o declínio. Com a bipolarização da sociedade, um partido como o CDS questiona-se que utilidade terá para os portugueses? Vivemos períodos de inquisição moral, sem que se questione ou seja permitido perceber as motivações, razões ou até um simples contraditório de quem tem opções diferentes. É muito mais aquilo que nos querem impor, do que aquilo que nos querem fazer acreditar. Mais que uma ditadura de opinião estamos perante uma batalha cultural, onde a democracia cristã, o conservadorismo e o liberalismo tem um papel preponderante enquanto programa político que queira responder aos problemas reais dos portugueses.
Esta é a missão de um CDS, colocar as pessoas no centro da ação política, em que procure ter um discurso moderado, mas que nunca se canse de gritar bem alto quando é violado o modelo político ocidental assente numa sociedade democrática e respeitadora das liberdades individuais.
Mais de que um programa, o CDS tem que oferecer uma mensagem de esperança. Como diria o professor Manuel Monteiro, discutir a política antes de discutir as políticas é assim uma tarefa que tem tanto de imprescindível como de urgente. Se só nos concentrarmos nas segundas, sem previamente refletirmos sobre a primeira, a política será palco de gestores mais ou menos independentes, mais ou menos competentes, de oradores com mais ou menos eloquência, de técnicos mais ou menos esforçados e até de profissionais empenhados em justificar os seus vencimentos, mas não terá Homens com a noção do que é ou deve ser o país. Como garantia de futuro o partido terá que ter esta consciência, de forma a não correr o risco da irrelevância. Se coletivamente optarmos pelos constantes ataques pessoais e a luta por lugares se torne uma prioridade o futuro líder até poderá ganhar o partido, mas já não terá partido para conquistar o país.
É uma ocasião tremenda para virar a página e dar um novo alento à realidade atual. Não só na dimensão que se associa à gestão corrente do Estado, mas sobretudo numa forma de ver o país a partir de um olhar não socialista.
Necessitamos de reconstruir a voz da direita em Portugal e de trilhar um caminho diferente, sendo capazes de libertar a política recuperando o que ela tem de mais sadio e cativante.