As figuras retratadas há mais de 500 anos nos Painéis de São Vicente ganharão agora uma nova vida em cima do palco, num espetáculo para crianças, intitulado "Quem é esta gente nos Painéis de São Vicente?", encenado por Vasco Letria, e que se estreia em novembro no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
A peça, baseia-se num livro homónimo que Ana Maria Magalhães, Isabel Alçada e a ilustradora Ana Seixas publicaram em 2017. Nela, imagina-se como é que Nuno Gonçalves preparou e idealizou a criação do retrato coletivo, dividido em seis painéis de madeira, e no qual estão representadas quase 60 pessoas, cuja identidade é ainda hoje um mistério e tema de investigações.
Para além da representação ao vivo, o espetáculo, protagonizado por Tobias Monteiro, no papel de Nuno Gonçalves, conta ainda com a projeção de imagens em 'videomapping', num cenário cujo formato replica os seis painéis de madeira da obra de arte.
"A pandemia tirou-me muito trabalho, mas também me deu outras oportunidades. Era impossível pôr 15 atores em palco, mas podia pôr um, gravando os outros todos", explicou o encenador e autor da adaptação teatral, Vasco Letria, aos jornalistas, no final de um ensaio de imprensa, admitindo ainda que sempre quis fazer um projeto que articulasse teatro, artes plásticas e audiovisual, porque "as artes estão todas ligadas".
Por sua vez, Isabel Alçada, que também assistiu ao ensaio juntamente com Ana Maria Magalhães afirma que: "Esta obra é absolutamente central na nossa história de arte. A nossa intenção é que os miúdos, cedo na vida, a conheçam. Porque quando conhecemos uma coisa na infância geralmente temos uma relação com ela que é completamente diferente de uma descoberta feita posteriormente".
No livro publicado em 2017, as duas escritoras imaginam o bulício na oficina de Nuno Gonçalves, entre pipas, potes e sacas cheias de materiais, com a presença dos figurantes que participaram, durante longas horas, na composição daquela pintura gigante.
Da mesma forma, a peça convida o público a estar atento à composição dos painéis e desafia-o a identificar detalhes que vão sendo narrados, expressões das figuras retratadas ou informações sobre a época da vida portuguesa de há 500 anos.
"Não lhes contamos tudo, deixamos sempre um caminho aberto para a imaginação deles", revelou Vasco Letria.
Ana Maria Magalhães considera que “tanto a peça de teatro como o livro são uma primeira apresentação da obra da arte portuguesa aos mais novos”. “São um primeiro passo para se estabelecer laços de afeto com os painéis", frisou a escritora.
"Fui muitos anos professora do 5.º e 6.º anos e, nos livros de História, geralmente aparecem estes painéis e não é fácil, com crianças de nove e dez anos, ajudá-los a perceber quanto a obra é bela. É demasiado longe daquilo que conseguem apreciar", frisou.
A peça de teatro estará em cena pelo menos um mês no auditório do Museu Nacional de Arte Antiga, mas está preparada para ser apresentada em escolas, bibliotecas e outros recintos do país.