A Web Summit 2021 arranca hoje, numa edição inédita em formato híbrido, com uma componente física e digital, que decorre até quinta-feira, dia 4. São esperadas mais de 40 mil pessoas em Lisboa, num evento que se desdobra em múltiplos palcos na Altice Arena e que conta com mais de mil oradores. Este será o maior evento de tecnologia a realizar-se presencialmente desde que a pandemia começou, tendo oficialmente esgotado bilheteira no domingo, de acordo com a organização.
A primeira edição da Web Summit em Portugal decorreu em 2016 e contou com mais de 50 mil participantes. Desde então, a conferência tem vindo a ganhar destaque internacional, abrindo caminho para que as maiores empresas e figuras influentes do universo tecnológico marquem presença na capital portuguesa.
Da inteligência artificial ao “pai da internet”, passando pelo 5G e pelos whistleblowers, relembramos os momentos chave das edições passadas e levantamos o véu ao que vai marcar esta edição de 2021.
Sophia e a Inteligência Artificial Há mais de três décadas, Ben Goertzel começou a investigar a inteligência artificial, uma área que, até então, não ia muito além da ficção científica. Hoje, é uma realidade incontornável e imparável que vai alterar o mundo em que vivemos. Esta foi uma das coisas que Ben Goertzel veio mostrar a Lisboa na edição de 2016. O cientista chefe da empresa Hanson Robotics subiu ao palco principal da Web Summit acompanhado por uma das estrelas do evento. Sophia tinha cara e voz de mulher, era capaz de fazer 62 expressões faciais diferentes, falava inglês e mandarim. Foi projetada para aprender, adaptar-se ao comportamento humano e trabalhar com seres humanos e continua a ser um dos robôs mais avançados da atualidade.
“A inteligência artificial e a robótica são o futuro. Eu sou ambas as coisas. Por isso é excitante ser eu”, anunciou Sophia na altura a uma plateia de milhares de pessoas.
Nesse ano, estiveram em Lisboa mais de 50 empresas ligadas a negócios neste campo e houve dezenas de palestras sobre o tema durante a Web Summit.
Já em 2017, a noite de abertura arrancava cedo, às 18h30, mas o destaque seria para uma hora mais tarde quando ia falar o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, não fosse ter aparecido um convidado surpresa. Durante a intervenção de Nuno Sebastião, presidente executivo da startup portuguesa Feedzai, surge nos ecrãs gigantes do Altice Arena o físico Stephen Hawking, introduzido pelo português.
“É neste espírito de pioneirismo, de desenvolver tecnologia para um bem superior que convidámos o próximo orador.” Eis que Hawking é recebido com uma onda de aplausos apesar de não estar fisicamente em palco. Através de um vídeo, Hawking veio falar de inteligência artificial e de como podia ser “a melhor ou a pior coisa para a humanidade”.
Na edição de 2021, o tópico volta a ganhar destaque na quarta-feira, dia 3 de novembro. Daniela Braga, fundadora da Defined.ai, fará parte da sessão “Me, myself and AI”, no palco principal, para um debate entre a responsável e Daniel Dines, cofundador e CEO da UiPath, acerca de inteligência artificial e o impacto da tecnologia nas nossas vidas.
A Magna Carta para a Web Tim Berners-Lee, o inventor da Internet, quis encontrar uma solução para consertar a sua criação. Por isso, no palco da Web Summit 2018, apresentou a convenção internacional “Magna Carta para a Web”.
“Pela Web [For the Web]” era o slogan para o projeto que queria criar princípios e valores para uma “Internet mais segura” e “livre”. O objetivo era chegar a um consenso internacional entre governos, empresas tecnológicas e todos os que utilizam a Internet que tornasse possível resolver problemas como as fake news (notícias falsas em português), o abuso de privacidade e de dados de utilizadores na Web.
O documento foi assinado por mais de 50 organizações, incluindo o governo francês, mas não passou do papel.
Na edição deste ano, Gary Kasparov, grande mestre de xadrez, ativista político e embaixador da Avast, vai pisar um dos palcos para a sessão “Taking back control of the internet”, na qual promete elucidar os participantes sobre a evolução da Internet, numa conversa onde os direitos digitais e a privacidade.
5G e Privacidade Em 2019, esperava-se que Guo Ping, chairman da Huawei, aproveitasse o palco da Web Summit para falar sobre a crise comercial entre a China e os EUA, muito ligada à segurança das redes móveis 5G. Só que o responsável da tecnológica chinesa evitou de todo abordar o assunto, tendo referido apenas que quem se juntasse à tecnologia 5G da Huawei ficaria a ganhar.
Sobre os problemas de segurança que esta tecnologia levanta nada disse, apenas traçou o cenário otimista que permite que as comunicações de canto a canto do mundo não tenham quebras técnicas.
No mesmo palco e minutos antes, Edward Snowden fez um aviso: “Se temos de confiar na Nokia ou na Huawei, temos um problema”. Em teleconferência diretamente da Rússia para os ecrãs do palco central da Web Summit, Snowden era um dos oradores mais aguardados para o dia de arranque da conferência em 2019 e quase dispensava apresentação: trabalhou nos serviços secretos norte-americanos e decidiu expor o que sabia sobre uma série de programas de vigilância de cidadãos, em 2013, abrindo um debate sobre privacidade que dura até hoje.
Na sua intervenção de 20 minutos, a privacidade dos dados dominaram a conversa. “Os dados não são inofensivos, não são abstratos, quando se fala de pessoas. Não são os dados que estão a ser explorados, são as pessoas”, defendeu.
Em 2021, a conversa pode ser novamente retomada por mais uma figura polémica. Frances Haugen, a ex-funcionária do Facebook que acusou a empresa liderada por Mark Zuckerberg de dar prioridade aos lucros em detrimento da tomada de medidas para a segurança na rede social e que está na origem dos documentos por trás dos Facebook Papers, é uma das cabeças de cartaz deste Web Summit. A denunciante do Facebook marca presença na sessão de abertura do evento, logo no dia 1 de novembro, a partir das 17h, no palco principal.