Não é segredo que o conflito promove o desenvolvimento: mesmo na pior das suas versões (o conflito militar) existe crescimento tecnológico e ideológico. Cultivar dentro de cada indivíduo a capacidade para aproveitar esse potencial, sem por em causa a dignidade humana, é uma ferramenta poderosa na materialização de qualquer que seja a meta pretendida.
O conflito acontece por divergência e polarização de posturas, pensamentos ou necessidades. A diferença dinâmica entre os polos é criadora de um potencial, e a sua melhor característica é permitir que, através da oscilação de opostos, se reuniam condições para a descoberta de valor em diferentes pontos de vista. Constante e inevitável, seja ele interno ou externo, cada ser consigo próprio ou com outro vizinho, este alarga os limites do conhecimento e providencia uma melhor reação a conflitos futuros.
O conflito intelectual é sempre digno quando justificado por algo que impacte a vida de quem o promove, desde que não ameace a dignidade de um qualquer outro indivíduo, qualquer que ele seja. Na minha opinião, e na de Sun Tzu, sempre que o fim não justifica o meio ou coloca em causa a vida humana, evitar a ‘guerra’ é mais gratificante do que vencer mil batalhas. Um conflito desnecessário é um ‘jogo de soma zero’ com redução do valor total em jogo, ou seja, não é bom para ninguém.
Um bom exemplo de soma zero é o poker, no qual o vencedor da ronda obtém a soma das perdas dos demais. Um conflito desnecessário, com a referida perda do valor total, é equivalente a jogar poker com a obrigatoriedade de deitar para o lixo um determinado número de fichas no final de cada ronda: há sempre um vencedor, mas o valor é gradualmente reduzido, podendo-se alcançar um ponto em que de nada vale jogar, porque não há fichas para ganhar.
Por oposição, quando se justifica, e principalmente quando não há perda do valor total em jogo, o conflito revela-se a perfeita oportunidade para colecionar experiência, diversidade e compreensão. Sendo certo que o impacto do conflito gera, a curto prazo, um impacto maioritariamente negativo ou neutro no observador oposto, nem sempre é certo que o resultado final seja melhor do que o estado inicial. É por esse motivo que as relações de maior proximidade, lealdade e resiliência são as existentes entre duas ou mais pessoas que resistiram em conjunto a situações de tensão, conflito ou dificuldade. As relações, seja de que natureza forem, provam-se pela sua consistência, pelo tempo, coerência, sinceridade e respeito, não sendo, por isso, as mais frequentes.
Em suma, recomendo ao leitor que evite o conflito desnecessário a qualquer custo. Perante o inevitável confronto, atuar em função de boas intenções, com sinceridade e respeito é a mais forte das armas. A forma que o conflito toma é provisória, mas a sua existência é permanente não contínua. Aceite que a disposição no seu tabuleiro da vida muda. Usufrua da observação das ações de terceiros para escolher sabiamente as suas batalhas e, consequentemente, as alianças, ferramentas e tecnologias que daí advêm para a sua vida.