Taylor Swift foi um tema quente na campanha para governador da Virgínia. Não é brincadeira. A cantora de 31 anos, venerada pelos seus fãs, conhecida pelas canções de desgosto amoroso, capazes de fazer chorar as pedras da calçada, virou um trunfo do democrata Terry McAuliffe.
Este não se coibiu de lembrar aos jovens que o seu adversário na luta pelo posto de governador, o republicano Glenn Youngkin, era co-CEO do Carlyle Group em 2019, quando este financiou a compra dos masters – a gravação original de uma música, a partir da qual todas as cópias são reproduzidas – dos primeiros seis álbuns de Taylor Swift, um «pesadelo», descreveu a cantora à época, que perdeu direito de acesso às suas próprias criações.
A questão é que os jovens – que compõem boa parte dos Swifties, alcunha dada aos fiéis fãs de Taylor – eram considerados uma demografia crucial nesta corrida a governador, que estava a ser observada com atenção a nível nacional. A Virgínia é um estado que nestes últimos anos tendeu fortemente para os democratas, onde Joe Biden bateu Donald Trump por mais de 450 mil votos, nas presidenciais de novembro.
Menos de um ano depois, quando as sondagens começaram a mostrar uma quebra do candidato democrata a governador, isso fez soar todos os alarmes em Washington. Historicamente, esta eleição é vista como termómetro político para as eleições intercalares, que decorrerão em 2022, onde os Presidentes incumbentes sofrem sempre uma certa erosão no seu apoio – os jovens, a demografia tendencialmente mais democrata na Virginal, era exatamente o grupo onde mais lhes importava estancar a sangria.
E é aqui que entra Taylor Swift. Não chegou para virar a maré – em agosto, McAuliffe tinha 50,1% das intenções de voto, segundo as sondagens do FiveThirtyEight, comparado com os 43,5% de Youngkin, mas ainda assim o democrata acabou batido esta terça-feira, com 48,6% dos votos, contra os 50.7% de Youngkin, com 99% dos votos apurados à hora do fecho desta edição.
Ainda assim, a cantora mostrou o enorme potencial político da cultura pop, inspirando a campanha democrata, que lançou uma série de anúncios nas redes sociais, no Facebook e Instagram, onde se questionava: «Sabias que o candidato republicano para governador, Glenn Youngkin, ajudou a comprar os masters de Taylor Swift contra a vontade dela, quando ele era co-CEO do Carlyle Group?». Nem todos os utilizadores veriam esses anúncios – estavam direcionados para virginianos jovens, avançou a Verge, enquanto no Google os anúncios surgiam somente a quem pesquisava pelo nome da cantora.
Bad Blood
Para compreender o drama em redor dos masters de Taylor Swift, que deixou em total alvoroço a indústria da música e mais além, temos de regressar a 2019. Nesses tempos, a cantora digladiava-se publicamente com o seu arqui-inimigo, Scooter Braun, um polémico empresário e gestor de talentos, que representa nomes como Justin Bieber, Ariana Grande, Martin Garrix, Kanye West e Demi Lovato – está para a música como Jorge Mendes está para o futebol português, poder-se-ia comparar.
Tudo começou quando Scooter comprou – com o dinheiro do fundo de investimento Carlyle Group, do agora governador da Virgínia – a Big Machine Records, a produtora onde Taylor Swift gravou os seus primeiros seis álbuns, pelo equivalente a mais de 250 milhões de euros. A partir daí, exerceu um «controlo tirânico sobre alguém que só quer tocar a música que escreveu», impedindo-a de tocar velhas canções em várias ocasiões, denunciou a própria Taylor Swift, num enorme post de Tumblr que virou viral. «Os fundos de investimento foram o que permitiu a este homem pensar que me podia comprar», rematou, nos prémios Billboard Music
A reação do público foi brutal, o hashtag #WeStandWithTaylor dominou as redes sociais durante meses. Até a senadora Elizabeth Warren, um dos nomes democratas mais conhecidos, saiu em defesa da cantora. «Infelizmente, Taylor Swift é uma das muitas cujo trabalho tem sido ameaçado por um fundo de investimento», tweetou. «Estão a devorar cada vez mais da nossa economia, custando empregos e esmagando indústrias inteiras. É tempo de puxar as rédeas dos fundos de investimento».
E agora, durante a corrida ao posto de governador da Virgínia, voltaram-se a ver slogans pró-Taylor. Aliás, durante a campanha os democratas chegaram a vender camisolas, canecas ou chapéus com mensagens relativas à estrela pop, tweetando mensagens contra Youngkin, como: «Se ele faz isto à Taylor Swift, vai fazê-lo aos virginianos». Ironicamente, tiveram de parar de vender esse merchandise no seu site, por não respeitar os direitos de autor da cantora, avançou a Rolling Stone.
A derrota eleitoral dos democratas, a sua incapacidade de aproveitar ao máximo o apoio dos Swifties, complicou muito a vida do Presidente. «Se McAuliffe perde, as pessoas vão tentar culpar Biden», avisara o analista Frank Luntz, ao USA Today, avisando que isso poderia ser visto como resultado da baixa popularidade de Biden, que tem apenas 42,9% de aprovação, segundo as sondagens da FiveThirtyEight. «E eles terão alguma razão».