As crianças são um poço sem fundo de curiosidade. Quanto mais estimuladas, mais sabem e mais querem saber.
Hoje, por exemplo, no caminho para as escolas, os meus filhos perguntavam-me quantas pessoas tem o mundo, quantas tem o nosso país, quanto pesava o Titanic, quanto é uma tonelada, por que razão e como é que os velhinhos tiram os dentes para dormir. É uma fase deliciosa, muito rica e especial, para eles e para nós, porque se lembram das coisas mais peculiares, fazem as perguntas e dão as explicações mais engraçadas. Fazem-nos pensar em coisas que de outra forma jamais nos lembraríamos. É a visão de criança a enredar-se com o mundo adulto, a encontrar paralelismos entre a sua opinião e a nossa, a lançar-se à descoberta e ao conhecimento.
À medida que crescem torna-se também para nós um enorme desafio acompanhá-los e encontrarmos respostas para tudo. Eles querem saber o impensável, sobre todas as áreas, compreender o que por vezes nem nós compreendemos ou ainda ninguém sabe responder.
É quando há entusiasmo que a curiosidade está desperta e o cérebro está também mais recetivo para receber informação e a guardar. A maior disponibilidade das crianças, o tempo ao ar livre, ler ou ouvir histórias, ver imagens, o relacionamento com os outros ou a vivência de experiências novas suscitam maior curiosidade e dão aso a um enorme role de questões. Provavelmente à resposta que estas questões encontrarem no momento, seguir-se-ão muitas outras, que vão abrindo caminho a um conhecimento novo, a toda uma nova pasta de saber que se vai organizando e que fica guardada na memória. Talvez para sempre. É importante que as questões sejam respondidas na altura, porque é também nesse momento que o caminho está mais aberto e sedento de receber informação. Aquilo a que não soubermos responder podemos investigar juntos e chegar à resposta, ou à ausência dela, em conjunto.
Na escola ideal, os conteúdos de aprendizagem iriam de encontro à curiosidade, desejo e disponibilidade mental de cada criança para aprender certa matéria em determinado momento. Há escolas que tentam fazer isso e o ensino doméstico, em que a disponibilidade para cada criança é maior, procura ir ao encontro dessa janela aberta. A verdade é que numa sala de aula tradicional, embora cada vez mais se caminhe nesse sentido, é difícil respeitar os tempos de cada criança porque as turmas são muito extensas e heterogéneas. Já para não falar no programa curricular demasiado amplo e exigente. No entanto, também aí a curiosidade pode ser aguçada com exemplos que vão ao encontro dos interesses de cada criança ou fazendo com que cada aluno experimente, se envolva e tente ir à descoberta da resposta certa às dúvidas e questões que surgirem. Nem sempre é uma tarefa fácil, mas quando se encontra o jeito os frutos são muitos.
O bichinho da curiosidade vai crescendo à medida que o alimentamos. Pode mesmo desenvolver-se de uma forma extraordinária se for escutado e nutrido eficazmente e na altura certa. Por outro lado, se não encontrar respostas, se não houver estímulo, se a vida e as experiências que ela lhe traz não o confrontam com a dúvida, não o intrigam ou se tiver preocupações tão grandes que se sobrepõem e que lhe inibem o pensamento, o bichinho começa a definhar, sem espaço e sem alimento. Até que alguém atento o belisque, o espicace, o entusiasme e o faça ter vontade de viver de novo.