Washington e Teerão tentam ressuscitar o seu acordo nuclear, voltando à mesa de negociações na segunda-feira, em Viena, após cinco meses de intervalo. No entanto, parece um esforço inglório, com os Estados Unidos a ameaçar rasgar o acordo de vez, o Irão a exigir cada vez mais concessões e Israel a ameaçar ação militar.
Enquanto os países europeus, que têm o papel ingrato de fazer de mediador, junto com a China e a Rússia, põem as mãos à cabeça, o Irão já deixou claro que não participará em nenhuma negociação direta com a delegação americana.
No centro da querela estão receios de que os iranianos estejam secretamente a reforçar o seu programa nuclear. Enquanto Teerão defende que tem todo o direito a fazê-lo, dado estar mais uma vez sob sanções após o acordo nuclear de 2015 – negociado por Barack Obama, junto com o seu vice-presidente, Joe Biden – ter sido rasgado por Donald Trump, em 2018. Algo que a Administração Biden ainda não conseguiu restaurar.
Esta disputa fez soar todos os alarmes em Washington, ressoando entre os seus aliados, a semana passada, quando Teerão entrou em colisão com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIE) das Nações Unidas, recusando que os seus investigadores voltassem a ter acesso às suas instalações nucleares. Se o acordo nuclear apenas permitia ao Irão enriquecer urânio até aos 3.67%, utilizável apenas para fins energéticos, bem longe dos 90% necessários à produção de armas nucleares, agora estarão a produzir urânio pelo menos até aos 60%, em centenas de centrifugadoras.
A questão é que não é apenas Telavive que se mostra disposta a bombardear o Irão – o Governo israelita de Benjamin Netanyahu sempre teve enorme vontade disso, tendo de ser controlado de perto por Washington, sendo que o seu sucessor, o atual primeiro-ministro Naftali Bennett, tem uma postura semelhante. “Todas as opções estão em cima da mesa”, fez questão de frisar o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, quando questionado sobre o assunto, ainda o mês passado.
O problema é que, se Biden quer obter um acordo, terá de enfrentar um cenário bem mais complicado que Obama. Por um lado, está com uma relação bem mais deteriorada com a China, um dos mediadores cruciais, que nos últimos anos foi o salva-vidas do Irão, comprando-lhe grandes quantidades de petróleo quando este tinha dificuldades em chegar ao mercado internacional devido às sanções americanas.
Por outro lado, ainda há a quebra de confiança nos EUA que veio com o rasgar do acordo por Trump. Agora, o Irão exige que Biden se comprometa que o seu país nunca mais sairá do acordo nuclear. O Presidente apenas se mostrou disposto a garantir que a sua Administração não sairá – para poder prometer algo que envolva os seus sucessores, precisaria de apoio do Congresso, onde até democratas se mostram reticentes quanto a negociar com o Irão. Além disso, Teerão ainda quer ser indemnizada pelas sanções de que foi alvo desde 2018, algo que é difícil antecipar que Biden venha a aceitar.