O empresário desportivo Pedro Pinho foi castigado pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol com quatro meses de suspensão e uma multa de 3600 euros, soube-se esta quarta-feira. A punição é relativa à agressão a um repórter de imagem da TVI por Pinho, a 28 de abril, após um jogo entre o Moreirense e o Futebol Clube do Porto. Além disso, este episódio ainda levou o empresário a ser acusado pelo Ministério Público de ofensa à integridade física qualificada, atentado à liberdade de informação e dano com violência.
A tudo isto, soma-se a investigação de Pinho como suspeito testa-de-ferro do presidente portista, Jorge Nuno Pinto da Costa, visado pela Operação Prolongamento. Este negou ter desviado dinheiro do seu clube em comissões, através de Pinho, exigindo aos investigadores documentos que o provem. “No dia em que me apresentarem, e não podem apresentar porque não existe, eu deixaria o FC Porto”, prometeu Pinto da Costa.
É de notar que o presidente do FCP é uma referência constante nestes processos de que Pinho é alvo. No incidente após o jogo entre o Moreirense e os dragões, Pinto da Costa estava mesmo ali ao lado, enquanto Pinho se atirava ao repórter de imagem, aparentemente furioso por ele estar a filmar o líder portista. Já este não reparou em nada demais. “Não vi nenhuma agressão do Pedro Pinho a alguém”, garantiu na altura Pinto da Costa, ao Porto Canal. “Apercebi-me depois que havia uma confusão e verifiquei que era o senhor Pedro Pinho que estava a querer tirar e tapar a câmara ao repórter de imagem que estava lá”.
Não é a primeira vez que o empresário – à semelhança de outros personagens em torno de Pinto da Costa, desde o líder dos Super Dragões, Fernando Madureira, até ao administrador da SAD portista Adelino Caldeira – é acusado de agressão, exibindo um temperamento volátil. Pinho já fora acusado de ameaças e ofensas à integridade física por Paulo Teixeira, agente de Rolando, em 2014.
O caso, que acabaria resolvido por acordo entre ambas as partes, sem chegar a julgamento, avançou o Público em abril, surgiu de uma disputa entre Teixeira e o filho do presidente do FCP, Alexandre Pinto da Costa. À época, Alexandre e Pinho ainda eram grandes amigos, sócios na Soccer Energy, a empresa através da qual desviavam dinheiro dos dragões, através de comissões na venda de jogadores, segundo suspeita o Ministério Público. Só se chatearam por volta de 2017, quando Alexandre, ciumento por ver o amigo tão próximo do pai, saiu Soccer Energy, deixando-a nas mãos de Pinho.
Se foram as imagens de Pinho a agredir um repórter de imagem que o tornaram uma cara conhecida do público, na altura a Operação Prolongamento – encabeçada pelo procurador-geral adjunto Rosário Teixeira e pelo chefe de Divisão da Autoridade Tributária, Paulo Silva – já o tinha debaixo de olho. Como avançou o Nascer do SOL, o esquema deslindado pela justiça passava por cobrar à SAD portista comissões fictícias ou inflacionadas na transferência de jogadores, que depois iam parar a uma conta em nomo de Pinho, cujo principal beneficiário seria Pinto da Costa.
Estranhamente, sendo Pinho alguém que recebeu tantas comissões por negociações de jogadores, a Comissão de Instrutores da Liga até chegou a propor o arquivamento do processo ao Conselho de Disciplina da FPF, devido à agressão ao repórter de imagem da TVI, por não identificar Pedro Pinho como agente desportivo. Ainda assim, o órgão disciplinar teve outra leitura, avançando com a decisão revelada esta quarta-feira.
Entretanto, já Pinho fora alvo de uma suspensão provisória de 20 dias pela Conselho de Disciplina da FPF, aplicada pouco depois do incidente em Moreira de Cónegos, tendo o empresário se mostrado “arrependido” de um “ato irrefletido”, declarou ao Record, mas assegurando não ter agredido fisicamente o repórter de imagem da TVI.
Na altura, alastrava a especulação sobre o que fazia este empresário desportivo no meio da comitiva dos dragões, próximo de Pinto da Costa. O que não se sabia é que o Ministério Público, antes do incidente, já se estava exatamente a debruçar sobre esta estranha relação.
Pinto da Costa até deixou pistas, quando questionado sobre o assunto. Fez questão de garantir que Pinho faria negócios com todos os clubes, mas que seria amigo dos dragões “porque meteu nos cofres do FC Porto, com o empréstimo do Casemiro, 7,5 milhões de euros”. A suspeita do Ministério Público é que tenha sido subtraído a esse valor 1,26 milhões de euros, pela intermediação de uma empresa desportiva, que depois entregou 700 mil euros à Soccer Energy, de Pinho e Alexandre, que não teve nenhum papel real no negócio, presumivelmente recebendo-o para que revertesse para o “saco azul” de Pinto da Costa.