Apostado no espírito de reforçar o eixo franco-alemão, mas também cumprindo uma tradição que já vem desde o pós-guerra, o novo chanceler alemão, Olaf Scholz fez de Paris o destino da sua primeira visita oficial, esta sexta-feira, logo dois dias após tomar posse.
O chanceler, que tem a dura tarefa de suceder a Angela Merkel, uma líder que dominou a política europeia durante mais de quinze anos, sentou-se para almoçar com o Presidente francês, Emmanuel Macron, para discutir o futuro da Europa. No que toca a esse assunto, os dois líderes têm bastante em comum. Macron sempre foi dos maiores entusiastas da integração europeia, uma posição acompanhada pelo partido de Scholz, o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, em alemão). Ao longo destes últimos anos, sempre foi Merkel que conteve os ímpetos do Presidente francês – há grandes expectativas para saber se o seu sucessor fará o mesmo.
Já Macron mostrou-se entusiasmadíssimo com o seu «querido Olaf», como o apelidou, tratando-o por ‘tu’ durante a sua conferência de imprensa conjunta. O Presidente francês viu no novo chanceler alemão «uma convergência de visões, um desejo de fazer os nossos países trabalhar juntos, uma firme e determinada fé na Europa», descreveu. «O que eu já sabia, e o que iremos precisar nos próximos meses e anos».
Scholz não foi tão efusivo, mantendo a postura mais fria tipicamente associada aos alemães – a verdade é que, mesmo na Alemanha, o novo chanceler sempre foi considerado um político particularmente pouco entusiástico.
Ainda assim, as promessas de Scholz, de «garantir uma União Europeia soberana, forte», certamente terão sido música para os ouvidos de Macron. O chanceler teve o tato de evitar tocar nos pontos de discórdia com Macron, como a energia nuclear, que Paris quer qualificar uma energia verde, para ter acesso a subsídios europeus, enfrentando feroz oposição em Berlim.
«Cada país segue a sua própria estratégia para combater as alterações climáticas», respondeu Scholz, questionado pelos jornalistas quanto à energia nuclear. «O que nos une é que reconhecemos essa responsabilidade e somos ambiciosos», reforçou o chanceler, ressalvando que «a Alemanha decidiu que vai apostar na expansão das energias renováveis».
No entanto, tão cedo a Europa não vai esquecer a antecessora de Scholz. Na Alemanha então, nem se fala. Ainda esta sexta-feira a imprensa alemã se deliciou com uma gaffe do gabinete do governador do estado de Hessen, Volker Bouffie, que, num convite aos jornalistas, recebido pela agência KNA, mencionou a sua reunião com «a senhora chanceler», ou Bundeskanzlerinem, em vez do masculino, Bundeskanzler.
Se a introdução do feminino de chanceler no dicionário alemão foi alvo de acesa discussão, em 2005, muito criticada pelos mais puristas da língua, «agora, ao que parece, muitos podem ter dificuldade em voltar para a palavra masculina», notou a DW.