A pandemia veio dar uma enorme volta nas nossas vidas e pôr em causa coisas simples e importantes como dar um abraço ou um beijinho. Se nós, que ainda temos uma réstia de bom-senso e de noções do que era a vida pré-covid, já andamos um pouco baralhados, o que dizer das crianças que têm sido criadas a acreditar que o melhor é estarmos afastados uns dos outros para não ficarmos todos gravemente doentes ou pior?
Embora sejam os menos afetados diretamente pelo vírus, os mais novos têm sido os mais prejudicados pelas medidas tomadas para o controlar.
Nos dois últimos anos, excluindo férias, fins de semana e feriados, as crianças do pré-escolar viram a escola fechada durante 69 dias e as do ensino básico durante 87 dias – ambos números superiores aos da OCDE. Numa fase fulcral do desenvolvimento emocional e cognitivo, as consequências não podem ter sido pequenas. Ao contrário do que se possa alegar e do esforço que professores e pais fizeram, a telescola foi desastrosa, ainda mais quando comparada com a escola presencial. Abriram-se desigualdades enormes entre escolas e entre crianças com e sem o apoio dos pais. Muitas famílias passaram por tempos muito difíceis e muitas crianças foram negligenciadas. No regresso à escola os programas estavam iguais e os professores têm feito tudo para os cumprir entre confinamentos e isolamentos. A juntar a estes dias em que as escolas estiveram fechadas, temos todos os outros em que turmas, escolas ou famílias ficaram em isolamento.
Primeiro 14 dias, agora 10, sempre que há um caso positivo todos os contactos considerados de risco – mesmo que não o sejam efetivamente – têm de cumprir o isolamento profilático até ao fim, mesmo com teste negativo. Assiste-se a coisas tão improváveis como uma escola inteira – ou um serviço de urgência e consulta pediátrica! – fechar por causa de uma pessoa infetada.
A juntar às escolas fechadas e ao consequente decréscimo da qualidade do ensino, juntaram-se as medidas que parecem ter vindo só para moer um pouco mais as crianças, como os parques infantis (ao ar livre e com bom tempo!) que permaneceram fechados durante meses a fio, quando já tudo estava aberto e os mais velhos voltavam a uma vida minimamente normal. Ou as regras apertadas e insensíveis nas creches e pré-escolar quando já havia ajuntamentos em bares e discotecas.
A cereja no topo do bolo foi a decisão da vacinação em massa das crianças com o pretexto de estarmos a protegê-las. É raro ver-se alguma coisa – ainda mais envolvendo tanto dinheiro – aprovada com tanta rapidez. Mas numa coisa somos coerentes: em pôr a segurança de todos à frente da das crianças e em usá-las como escudo de proteção. Por que avançar neste momento, em que as variantes e reforços de vacina se sucedem e as crianças não adoecem com estas estirpes, para a vacinação de crianças saudáveis, com estudos científicos ainda limitados? Qual a pressa? Por que não agir com precaução – como elas merecem – e esperar para que nos sintamos todos mais seguros para dar esse passo?
Para controlar os contágios do Natal daqui a 15 dias? Para diminuir os contágios – de que o número efetivo sempre foi um mistério bem guardado – nas escolas? Ou para acabar com os isolamentos profiláticos impostos pela DGS? É impossível esta decisão estar focada na saúde das crianças, que vários especialistas já afirmaram não estar em risco. Até aqui pensava-se que as vacinas serviam para evitar a morte e a doença grave de quem as toma, mas em crianças saudáveis felizmente isso não se coloca. Qual é então o seu verdadeiro objetivo? Esperemos que depois da vacinação ‘não obrigatória’ não exijam um certificado digital para as crianças que queiram ter uma vida minimamente normal.