Por Carlos Pereira, Economista e vice-presidente do grupo parlamentar do PS
Há muito tempo que se discute a exigência de um esforço de diversificação da economia portuguesa e a necessidade de alterar o seu padrão de modo a garantir um crescimento económico mais robusto e baseado na procura externa. O tema ganhou novos contornos porque há uma clara consciência que crescer mais e mais rápido é condição essencial para distribuir mais e tornar o país menos desigual.
A garantia de crescimento económico é também o argumento necessário para assegurar que Portugal reforça o papel do estado social e aprofunda os ganhos extraordinários na educação e na saúde, mas também na redução de desigualdades. Mas, em abono da verdade, essa transformação económica já está a ocorrer. É verdade que a extraordinária situação pandémica colocou alguns obstáculos e gerou novos desafios e problemas, mas a base da mudança percorrida desde 2016 deixa Portugal preparado para uma década de recuperação e de aproximação aos mais elevados padrões de desenvolvimento, tendo em conta as novas tendências da economia mundial.
Não, não é apenas wishful thinking! A economia portuguesa está mesmo a mudar: há empresas portuguesas a ganhar quota no mercado internacional em setores estratégicos como, por exemplo, os moldes, que hoje já são o terceiro e o oitavo maior produtor europeu e mundial respetivamente.
O investimento direto estrangeiro (IDE) não para de crescer: em 2020 o stock de IDE atinge o valor recorde de quase 150 mil milhões de euros e assim acelera a inovação, cria emprego qualificado e financia a economia.
O empreendedorismo português atinge patamares extraordinários em comparação com outros países europeus. Com 6 unicórnios (empresas com valorização superior a 1000 milhões de euros sem presença na bolsa) Portugal compara com Itália e Espanha que têm 1 e 2 respetivamente.
Estes unicórnios portugueses com capitalização próxima de 38000 milhões de euros já representam 40% do PSI 20! Com 400 milhões de estímulos à criação de startups, o país viu nascer quase 3000 novas empresas, na maior parte dos casos assentes em produtos e processos inovadores.
Nada disto ocorreu por acaso. A política económica baseou-se em premissas claras: capitalizar as empresas que vinham de um processo traumático com a crise do subprime e a ausência de medidas anticíclicas que ameaçaram seriamente o tecido económico português; a estabilidade fiscal fomentando uma abordagem de benefícios fiscais de modo a orientar o investimento para setores estratégicos; o fomento da atividade dos centros tecnológicos para catapultar a inovação em novos setores ou nos tradicionais; a proliferação de incubadoras com incentivos específicos, mobilizando universidades e autarquias para criar empresas, gerar emprego qualificado e criar riqueza. Mas nada disto tinha sido possível sem um reforço das qualificações e das substanciais melhorias no sistema de ensino.
As universidades portuguesas perseguiram as tendências mundiais com grande competência e assim ganharam competitividade. Hoje muitas delas surgem nos lugares cimeiros dos rankings internacionais, atraindo talento estrangeiro e credibilizando a imagem do país. Não é aceitável travar este movimento.
É preciso manter uma política de reforçar os fatores de competitividade, aprofundar as medidas de fixar capital no país, contrariar a escassez de mão de obra que coloca em causa o crescimento dos próximos anos, ir mais longe na capitalização do nosso tecido económico e manter o entusiasmo na desburocratização. Devem ser estes os caminhos da continuidade de uma política económica exigente e comprometida com o crescimento económico.
Crescimento que só é possível se assente num dinamismo empresarial empurrado por medidas certas na proporção adequada. É isto que ambiciono para o meu país: crescer, ainda mais, na linha do que tem sido feito desde 2016 (sempre acima da média da UE) e que correspondeu a uma disrupção com o passado.