‘Torrejanos’

Torres Novas é terra de Vieiras e Vassalos. Todos com tão boa fama, que ainda hoje há quem se lembre de um dito que corria na terra: «Vieiras e Vassalos, é tê-los e largá-los».

Por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó, como estás?

Finalmente a tua Exposição chega a Torres Novas. Confesso-te a minha mais pura ignorância: até agora, só conhecia Torres Novas através das histórias que tu me contas, e através do jornal Almonda (que reenvias semanalmente cá para casa depois de o leres).

Os teus Retratos Contados, a Exposição que conta um pouco do muito que tem sido a tua vida e obra, vai estar patente na Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes até meados de janeiro. 

Não podia estar mais feliz! Fui muito bem recebido pelo Presidente da Câmara de Torres Novas, pela Vereadora da Cultura e pelas responsáveis pela Biblioteca, que fizeram uma instalação lindíssima com algumas capas dos teus livros e garrafas de álcool da fábrica do teu filho. 

Ficou combinado, em janeiro, realizarmos algumas tertúlias no Auditório da Biblioteca. Para falarmos da tua ligação a Torres Novas, e, claro está, do nosso ‘Diário’   

A Biblioteca Gustavo Pinto Lopes está localizada precisamente onde era a fábrica de álcool do teu pai. Ainda resiste a chaminé e o poço, que fizeram parte do antigo edifício. 

O mais engraçado é a Biblioteca ter sido inaugurada pelo Presidente Cavaco Silva. Tantas vezes me contaste a história do Cavaco, ainda criança, ir com o pai dele descarregar figos à fábrica do teu pai.

Realmente a vida é feita de ciclos. 

Mas deixo para ti desenvolveres mais a história da antiga fábrica e as tuas memórias de infância relacionadas com Torres Novas.

Nas Lapas, o teu filho fez-me uma maravilhosa visita guiada à fábrica, que está na tua família há anos e, que ainda hoje mantém o nome de Manuel Vieira, o fundador da empresa.

Juro que só falámos bem de ti. Nem podia ser diferente!

Não sei se me vou tornar torrejano – mas que quero saber muito mais sobre a terra, lá isso quero! Preciso de ter mais tempo para conhecer Torres Novas e os Torrejanos. 

Oportunidades não vão faltar.

Querido neto,

Pertenço a uma família complicada… Eram outros tempos, evidentemente. A minha bisavó teve 16 filhos, coisa que na época não era assim muito estranho. Claro que muitos morreram à nascença, em criança, com a pneumónica, etc, mas ainda conheci seis – o Joaquim (que me criou), o Manuel (que criou o meu irmão José António, e deu o nome à empresa), o Olímpio (que por acaso se chamava César), o António (que veio a casar com a minha tia Aurora, irmã da Maria Lamas), o José, com quem eu me divertia imenso em miúda porque era meio tonto e passava os dias inteiros sentados num banco diante do escritório da fábrica, a rir para toda a gente, e o Augusto, casado com a tia Mafalda, e que era fanático pela língua  portuguesa. Lembro-me que quando a filha dele casou, ele me ‘obrigou’ a convidar a nossa professora de português da escola.

Havia ainda duas irmãs que sobreviveram algum tempo, a minha tia Vitória (a moradia nas Lapas tem o nome dela) e a Alice, minha avó, que morreu poucas semanas antes de eu nascer.

O meu pai não tem nada a ver com Torres Novas. Ou seja: trabalhava no escritório dos meus tios, e um dia a minha mãe entrou pelo escritório adentro, olhou para o pessoal todo, apontou para um deles e disse aos tios que a criavam: «Quero casar com aquele». 

E casou. 

Mas a família do meu pai é toda de Alenquer.

Torres Novas é terra de Vieiras e Vassalos. Todos com tão boa fama, que ainda hoje há quem se lembre de um dito que corria na terra: «Vieiras e Vassalos, é tê-los e largá-los».

Estás a ver…

Mas – repito – hoje os tempos são outros. Mas há muita gente que ainda se lembra de os meus tios-avós serem todos conhecidos pelos “Velhos”. Eu ainda me lembro de as pessoas se referirem a eles dessa maneira.

Depois conto mais.

Mas prepara-te para ouvires as maiores maluqueiras… 

Vais gostar de conhecer Torres Novas e os Torrejanos.

Estou muito feliz pela Exposição estar na Biblioteca de Torres Novas.

Bjs