Estados Unidos. Senador democrata deixa legado de Biden em risco

Joe Manchin foi à Fox News dizer que ia matar o Build Back Better. Sem os 1,75 biliões de dólares que precisam, os democratas desesperam.

Uma das mais cruciais promessas de Joe Biden, o programa Build Back Better, que pretende investir 1,75 biliões de dólares (mais de 1,5 biliões de euros) em áreas como os serviços sociais ou o combate às alterações climáticas, pode ter recebido a sua certidão de óbito ao vivo, na Fox News, este domingo, quando o senador democrata Joe Manchin garantiu que votaria contra o seu próprio partido.

A dias do natal, milhões de famílias que têm dependido de subsídios em função do número de filhos souberam que, provavelmente, não receberão mais nenhum cheque, notam os analistas. Outros realçam que, devido à oposição de Manchin, a perspetiva de que Biden ponha os Estados Unidos rumo a 80% de energia limpa até 2030 se tornou uma miragem. Deixando a Casa Branca lívida e o legado de Biden em sério risco.

A questão é que, com o Senado dividido ao meio e os republicanos a cerrar fileiras contra a Administração Biden, os democratas precisariam de cada um dos seus votos, ficando aí o desempate nas mãos da vice-Presidente Kamala Haris. 
Ainda a semana passada a vice-Presidente, ao ser entrevistada pelo apresentador Charlamagne tha God, se deparou com uma pergunta que passa pela cabeça de muitos americanos. “Quem é o verdadeiro Presidente deste país, Joe Manchin ou Joe Biden?”.

Na altura, Manchin já derrotara a ala mais progressista dos democratas, encabeçada por figuras como Bernie Sanders ou Alexandria Ocasio-Cortez, levando o partido a aprovar o investimento de mais de um bilião de dólares para renovar infraestrutura – algo que Manchin queria – separadamente do Build Back Better. Já os progressistas pretendiam votar os dois programas juntos, para forçar a mão do senador. 

“Nós sabiamos que ele faria isto”, tweetou Ocasio-Cortez, acusando Manchin de não ser “um homem de palavra”. A Casa Branca reagiu no mesmo tom, notando que as declarações do senador na Fox News “estão em desacordo com as suas discussões desta semana com o Presidente, com funcionários da Casa Branca e com as suas próprias declarações públicas”, nas palavras da porta-voz Jen Psaki.

Já Manchin defendeu que não podia aceitar os gastos que o Build Back Better implicavam. “Não consigo votar para continuar com esta proposta de legislação”, declarou Manchin, num aparente fim das negociações que encetava com os seus colegas e com a Administração Biden. “Isto é um não”, rematou, acusando o programa de arriscar aumentar o endividamento público e a inflação.

Essa é uma enorme preocupação para o público americano, que enfrenta uma inflação de 6,8% no preço dos bens essenciais desde o ano passado, segundo o Wall Street Journal, o maior aumento em quase quatro décadas. É um tema sensível para Biden, visto como um dos grandes motivos para a sua quebra de popularidade, ficando com uma taxa de aprovação de apenas 43,7%, segundo a FiveThirtyEight.

No entanto, 17 prémios Nobel da Economia discordam de Manchin, deixando isso claro numa carta aberta, onde explicam que o Build Back Better a longo prazo até diminuiria a inflação.

“Componentes chave desta agenda mais ampla são críticos, incluindo reformas para tornar o nosso sistema fiscal mais justo e permitir ao nosso sistema recolher fundos adicionais necessários ao investimento público”, lia-se na carta. 

“Porque esta agenda investe na capacidade económica a longo prazo e irá aumentar a capacidade de mais americanos de participar produtivamente na economia, irá diminuir a pressão inflacionária a longo prazo”, continuavam o prémio Nobel. Ou seja, o dinheiro investido criaria mais empregos e poder de compra, logo beneficiando a economia como um todo.