Macron quis irritar os não vacinados, mas acabou por chatear franceses

Macron quer vencer pelo cansaço os não vacinados, prometendo irritá-los com cada vez mais restrições de acesso a estabelecimentos.

Notícia atualizada às 16h30

Vencer pelo cansaço: é esta a estratégia do Presidente francês para controlar a pandemia. Emmanuel Macron admitiu que pretende "irritar" as pessoas que recusam a vacinação contra a covid-19, prometendo que lhes vai dificultar cada vez mais a vida.

"Os não vacinados, quero mesmo chateá-los. E por isso vamos continuar a fazê-lo até ao fim. Essa é a estratégia", disse em declarações ao jornal francês Le Parisien.

Neste sentido, prevê limitar cada vez mais aos não vacinados o acesso a certos serviços. No ano passado, a França introduziu um passe sanitário que proíbe que pessoas sem um teste PCR negativo, ou comprovativo de vacinação, entrem em restaurantes, cafés e outros locais.

Agora, o governo francês quer transformar esse passe sanitário num passaporte de vacinação, o que significa que apenas as pessoas com o esquema vacinal completo terão acesso a esses espaços, deixando de ser válida a apresentação de teste PCR negativo.

“Não vou mandar (os não vacinados) para a prisão, não os vou vacinar à força. Mas é necessário avisar: a partir de 15 de janeiro, não vão mais poder ir a um restaurante, não vão poder ir beber um copo, não vão poder ir tomar um café, ir ao teatro, ao cinema”, frisou.

As afirmações de Macron caíram como uma bomba na Assembleia Nacional, num momento em que está a ser discutido a mudança para o passe vacinal no hemiciclo francês, levando várias forças da oposição a pedir a suspensão da sessão. 

No parlamento, deputados fizeram várias trocas de palavras acesas, com a bancada da oposição a reclamar a presença do primeiro-ministro francês, Jean Castex. 

"Acho que podemos concordar que não estão reunidas as condições de trabalho sereno para continuar esta sessão", disse Marc Le Fur, deputado da maioria que estava a presidir à sessão. Note-se que os trabalhos parlamentares seriam suspensos já durante a madrugada.

Já o deputado da extrema-direita e candidato à presidência afirmou que "as palavras do Presidente desonram" a sua função e a Assembleia, ao passo que o presidente da força política Os Republicanos (direita), Christian Jacob, admitiu não querer aprovar um diploma que serve para "chatear" os franceses. E para a candidata presidencial dos Republicanos, Valérie Pécresse, é preciso "acabar com este mandato de desprezo".

No entanto, a entrevista de Macron não criou apenas desavenças no parlamento. A opinião pública francesa ficou chocada com uma determinada frase do Presidente: "um irresponsável não é um cidadão". Esta frase tocou em muitos franceses, nomeadamente os cerca de cinco milhões que escolheram não se vacinar contra a covid-19.