Sidney Poitier, que ajudou a quebrar as barreiras de cor de Hollywood nas grandes telas antes de se tornar um dos maiores atrativos de bilheteira dos anos 60 em filmes como ‘A Raisin in the Sun’, ‘Guess Who’s Coming to Dinner’ e ‘Uptown Saturday Night’, morreu esta sexta-feira, aos 94 anos.
O primeiro homem negro a ganhar um Óscar de Melhor Ator, com o filme ‘The Lilies of the Field’, em 1964 – onde faz o papel de um trabalhador que ajuda freiras brancas a construir uma capela – e um modelo exemplar para as gerações seguintes, morreu nas Bahamas.
A notícia foi dada pela imprensa local do próprio país do qual o actor e realizador era oriundo e onde cresceu, primeiro pelo site Eye Witness Bahamas, que cita o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Fred Mitchell, depois pela NBC News que confirmou o óbito junto de uma fonte da família do próprio Poitier.
"Perdemos um ícone, um herói, um mentor, um combatente e um tesouro nacional", escreveu o vice-primeiro-ministro das Bahamas na sua página da rede social Facebook, sem mencionar mais detalhes sobre a morte.
O ator fez a sua estreia no cinema em 1950, interpretando um jovem estagiário numa enfermaria de um hospital municipal em ‘No Way Out’, um filme pensado sobre o olhar explosivo do diretor Joseph L. Mankiewicz sobre o preconceito racial e estrelado por Richard Widmark. Contudo, só “se fez notar”, cinco anos depois, no filme Blackboard Jungle, filme realizado por Richard Brooks. Mal sabia Poitier que o seu nome ficaria marcado na história do cinema para sempre.
A verdade é que, ao longo da sua carreira de mais de 50 filmes, o artista foi, muitas vezes, o pioneiro. Além de ter quebrado barreiras ao vencer um Óscar, ainda antes disso, em 1957, tornou-se também no primeiro negro a ganhar um prémio no Festival de Cinema de Veneza, pela participação no filme ‘Something of Value’.
Foi ainda o primeiro negro nomeado para a categoria de melhor ator nos Óscares, em 1958, depois de entrar em ‘The Defiant Ones’. Em 2002, tornou-se igualmente o primeiro artista negro a receber um Óscar honorário pelo conjunto da obra de mais de 50 filmes. “Antes de Sidney, os atores afroamericanos tinham de assumir papéis secundários nos grandes estúdios”, para que fosse “fácil cortá-los em certas partes do país”, recordou Denzel Washington nesse ano, quando Sidney Poitier recebeu o prémio. “Mas não se podia cortar Sidney Poitier de um filme de Sidney Poitier”, concluiu o também ator na cerimónia da Academia. Além disso, o ator foi, “o primeiro homem negro” a beijar uma mulher branca num filme e dar uma estalada a um homem branco na sétima arte.
Em plena época de segregação racial, Sidney Poitier, marcou, por isso, a geração afro-americana do seu tempo ao se tornar num verdadeiro ícone antirracista, de “mão dada” com a luta política de figuras como Martin Luther King e Rosa Parks. "Tinha um sentido de responsabilidade, não só para comigo e para com o meu tempo, mas, certamente, para as pessoas que representava", reconheceu numa entrevista em 2008. Por isso foi apelidado de “Martin Luther King” dos filmes, por vários biógrafos.
O ator foi também realizador, tendo-se estreado em 1972 com o western ‘Buck and the Preacher’, sendo também responsável por comédias como ‘Dumb & Dumber’, com Richard Pryor e Gene Wilder, de 1980. Além da sétima arte, Poitier, foi, ao mesmo tempo, financiador do movimento dos direitos civis negros, tendo participado na Marcha sobre Washington. Entre 1997 e 2007, foi embaixador não-residente das Bahamas no Japão.