Corria o ano de 1942, em pleno Estado Novo, quando o arquiteto Francisco Keil do Amaral começou a projetar o Parque Eduardo VII tal como o conhecemos hoje. A título de exemplo, em 1948, após visitas a obras da arquitetura moderna como as de Frank Lloyd Wright ou Eliel Saarinen, concretizou o remate do topo norte do espaço com Hernâni Gandra e Alberto José Pessoa. Foi exatamente nessa direção que foram colocadas duas imponentes colunas imperiais dos anos 50, uma obra que viria a marcar o seu percurso.
Apesar de se saber que aquela é a estética que mais representa os regimes ditatoriais fascistas, Keil do Amaral não se identificou publicamente com o regime político que vigorava então nem fez de tudo para ir ao encontro dos padrões do gosto oficial do Estado Novo. Pelo contrário: tal como o jornalista e crítico de arte Alexandre Pomar escreveu, em fevereiro de 1999, procurou uma «terceira via». O objetivo primordial passava por conseguir conciliar «a racionalidade moderna com a consideração realista das lições da arquitectura tradicional, terão contribuído para tornar mais complexa a abordagem da sua intervenção profissional». É que, para além de artista, Keil do Amaral opunha-se efetivamente ao regime, dedicando-se à organização «das Exposições Gerais de Artes Plásticas (1947-56), que foram uma frente importante de afirmação da arquitectura moderna, embora menosprezadas no processo da hostilização fantasmática do neo-realismo».
Por outro lado, destacavam-se as «características mais pessoais da sua arquitectura, pouco interessada no aparato formalista, guiada por princípios éticos e valores de equilíbrio espacial e sobriedade que não buscavam projecção mediática», sendo que estes «foram outros factores de idêntica consequência. De facto, não podiam ser facilmente aceites a conjunção de rigor e humor de um homem que criticava a ‘arquitectura pífia, mesquinha, etc., na exacta medida em que nós o somos, de modo geral…’».
Todavia, quem passa, por estes dias, por aquele que é considerado o maior parque do centro de Lisboa, certamente já reparou na implementação de um perímetro de segurança em redor de uma das colunas do topo norte daquele espaço. Coluna essa que ladeia o Monumento ao 25 de Abril. Inaugurado em 1997, e da autoria do escultor João Cutileiro, foi extremamente criticado por apresentar uma forma fálica.
Questionada pelo Nascer do SOL, no início da semana, a Câmara de Lisboa (CML) esclareceu que o perímetro de segurança foi definido «por uma das colunas apresentar risco de queda de elementos», adiantando que «os serviços de Manutenção e Conservação da CML já estão a diligenciar pela intervenção necessária».
O Nascer do SOL tentou obter mais informações e reações a esta situação, até à hora de fecho desta edição, não obteve qualquer resposta da parte da CML, do Museu Keil do Amaral nem da Câmara Municipal de Viseu – distrito onde se situa a freguesia de Canas do Senhorim, onde o artista completou a instrução primária antes de seguir, por volta de 1920/21, para Luanda, onde o pai era Governador-Geral.
Logo em 1922, de regresso a Portugal, frequentou o Colégio Nacional e o Liceu Gil Vicente. Volvidos seis anos, terminou o percurso escolar. Um ano depois, deu início à vida profissional como designer publicitário, voltando a estudar, em 1930, quando se inscreveu no curso especial de Arquitetura da Escola de Belas Artes de Lisboa.
Uma degradação anunciada?
Em março do ano passado, a autarquia anunciou a realização de obras de requalificação – com a duração prevista de 12 meses –, que correspondem a um investimento total superior a dois milhões de euros, no sistema de drenagem do parque. Esta intervenção obteve o parecer favorável da Direção-Geral do Património Cultural e não pôs em causa a Feira do Livro, evento que decorreu entre os dias 26 de agosto e 12 de setembro do ano passado.
É igualmente de realçar que, em março do mesmo ano, na sessão extraordinária da Assembleia Municipal, a deputada do PSD Ana Mateus elucidou que «a composição geométrica de sebe de buxo idealizada pelo arquiteto Keil do Amaral encontra-se deteriorada, verificando-se o desaparecimento de vários exemplares, enquanto os existentes se encontram envolvidos em erva alta, que os descaracteriza, existindo zonas onde o traçado geométrico já é inexistente», apontando também aspectos como o facto de «toda a zona alcatroada» se encontrar «em mau estado de conservação, de tal forma que pode apresentar perigo de queda para quem usufrui do espaço».
Assim, os sociais-democratas sugeriram a restauração do Parque Eduardo VII, «devolvendo-lhe a sua antiga glória», recomendaram «que a preservação do Parque Eduardo VII seja realizada de forma continua e regular», «que todos os contratos e protocolos para realização de eventos neste parque tenham medidas para mitigar o impacto que os mesmos têm no espaço público, bem como compensações para os arranjos necessários depois da sua realização» e «que parte da receita do licenciamento dos eventos aqui realizados seja consignada para a preservação do espaço».
O deputado do PS José Borges destacou que «a verdade é que a Câmara de Lisboa tem feito uma cuidada manutenção do espaço e a recuperação do Pavilhão Carlos Lopes foi um importante contributo para a valorização do Parque Eduardo VII», evidenciando «que todos nós ficámos com vontade de ir ao Parque Eduardo VII, que, é o contrário do que dizem ser o Parque Eduardo VII, afinal, como um sítio de degradação, um sítio de abandono». No final, frisou que «talvez seja altura de se distanciarem do PSD nacional e apoiarem o candidato Fernando Medina, à Câmara de Lisboa, que é quem tem garantido que o Parque VII se mantenha tal como ele está».
Por último, o vereador do PS João Paulo Saraiva indicou que «o Parque Eduardo VII é mantido diariamente, por um conjunto muito alargado de jardineiros, neste momento de cerca de vinte jardineiros que cuidam dele todos os dias, para além, de um conjunto de pessoas que tratam de toda a estrutura da Estufa-Fria, que é a data de hoje com um investimento, que nos últimos três anos rondam os quinhentos mil euros», observando que foi concretizado «um conjunto de intervenções» nos «últimos anos» como aquele «que veio devolver ao Pavilhão Carlos Lopes uma nova vida, uma vida recuperada, feita com a ambição necessária para que tivesse novas utilizações e que fosse um espaço de grande atividade da cidade, para além, do parque infantil, de um conjunto de outras infraestruturas que permitam, por exemplo, como aconteceu, durante esta pandemia já um conjunto de espetáculos culturais ao ar livre».