Por João Cerqueira
Nas próximas eleições vamos eleger muito mais do que um partido que governe, um primeiro-ministro e uns 230 deputados mais ou menos participativos. Nas próximas eleições os (as) eleitores (as) vão escolher se querem que tudo continue como está, se estão satisfeitos com o estado do país, ou se querem uma mudança, por pequena que seja.
Nesta decisão de cada homem e mulher que não se absterá de votar, é muito importante que não se confundam factos com argumentos.
Um facto é uma realidade indesmentível: um número que indica o estado da economia, o índice de desenvolvimento humano do país, o número de pobres, a quantidade de pessoas que emigraram, os valores que foram investidos nas empresas públicas e os valores que foram canalizados para impulsionar o sector privado, etc. Um facto pode também ser uma realidade não mensurável pelos números, mas sim através da ética e da moral: o que disseram e fizeram os governantes, como reagiu o primeiro-ministro a um determinado comportamento de um seu ministro, que exemplos, bons ou maus, deram aos portugueses? Os factos aconteceram e são tão verdadeiros como dois mais dois serem igual a quatro. E ainda que os governantes os tentem negar ou distorcer amiúde, muitas vezes com a ajuda de jornalistas sem decoro, qualquer cidadão pode facilmente descobrir a verdade num clique no Google.
Um argumento, ou opinião, é a forma como analisamos ou interpretamos ou mesmo distorcemos os factos – ou seja, a verdade. Por exemplo, é um facto indesmentível que Portugal está estagnado há mais de vinte anos, que foi ultrapassado por dez países que eram muito mais pobres, que já não é considerado uma democracia plena por organismos internacionais ou pela revista The Economist e, para a desgraça ficar completa, poder vir a ser o país mais pobre da UE em breve. Perante esta realidade catastrófica, podemos então usar dois tipos de argumentos: justificar o atraso, a pobreza e os biliões de fundos europeus perdidos; ou responsabilizar os governantes pela sua má governação.
Nestas eleições, o governo socialista e os seus antigos aliados comunistas tentam justificar o atraso e a estagnação económica – da degradação da democracia não falam, como se não merecesse comentário – com a pandemia e, até há algum tempo atrás, com a Troika e Passos Coelho. Ou seja, sacodem a água do capote e arranjam bodes expiatórios. Por vezes, o PS acena com números de crescimento – 4,8% em 2021 e 5,8% previsto para este ano – como se tudo estivesse a correr bem. A isto chama-se uma falácia, pois sendo os números verdadeiros, falta contar a outra parte da história: os países com os quais concorremos cresceram e crescem mais do que nós, sendo este crescimento insuficiente ou, como dizem os empresários, anémico. Ou seja, ainda que 5,8% pareça um bom número é, na verdade, fraquinho e não impede que estejamos cada vez mais pobres. Por muito bem que seja apresentado, o argumento não anula o facto.
A oposição – sobretudo a feita pela IL – responsabiliza o governo socialista pela estagnação do país. A culpa na pandemia não explica tudo – na verdade, só poderia explicar dois anos e não vinte – pois os outros países não foram tão afectados nas suas economias, tendo a Irlanda – o pesadelo de qualquer socialista – até crescido 3,4%. O país não cresce e é ultrapassado pelos outros porque os governos socialistas dos últimos vinte anos se recusaram a fazer as reformas de que o país necessita – e que os outros países fizeram.
A brutal carga fiscal sobre as empresas e a classe média, assim como o controle pelo Estado de empresas que dão prejuízo – a TAP é o melhor exemplo – são incompatíveis com o crescimento económico. O problema de Portugal resume-se a isto: em vez de seguir os modelos que produziram riqueza e até diminuíram as desigualdades sociais – como a Irlanda ou a Alemanha -, países que acolhem os jovens altamente qualificados que fogem do socialismo português, o governo insiste num modelo económico falido que nunca resultou em lado nenhum e já produziu três bancarrotas.
Estes dois argumentos poderão ser muito mais desenvolvidos, mas a sua essência é esta: a desresponsabilização e os números falaciosos; a responsabilização pelo fracasso e a comparação com os países bem-sucedidos.
Portanto, cabe agora ao cidadão (ã) que vai votar escolher um deles, encaixá-lo nos factos e convencer-se de que está a tomar a melhor decisão para a sua vida – e a dos seus filhos, se os tiver.
Se considera que o país está bem assim e não quer mudar nada, ou se aceita que há sempre um culpado ou uma cabala contra nós, então vote no PS ou nos seus aliados da extrema-esquerda.
Se deseja uma mudança, se acredita que as reformas que resultaram nos outros países também irão resultar em Portugal, tornando-o mais rico e desenvolvido, então vote na oposição.