Por João Maurício Brás
Os nossos pais e avós vivem agora num mundo com nomes que desconheciam por completo como não binários, poliamor e LGBTQI +, e ouvem dizer que o facto de serem homens ou mulheres, de haver mulheres que casam com homens, homens pais e mulheres mães com filhos, de preservarem a ideia de família e gostarem do seu país é cada vez mais vergonhoso.
Afirmar que uma mulher é uma mulher e um homem é um homem é considerado uma visão ultraconservadora de género.
Temos em alternativa a visão pós-moderna, não há homens nem mulheres, já existirão cerca de cem géneros e mesmo o não ter género algum.
Ora, quando ouvimos falar em género acoplado com a designação de igualdade, podemos não estar perante a defesa de direitos e dignidade igual para todas as pessoas, nem do combate contra as formas de discriminação inaceitáveis baseadas em sexo e orientação sexual. Provavelmente trata-se de propaganda de um certo ativismo baseado em pseudoconhecimento: um dos dogmas principais desse embuste é a ideia que ser homem ou mulher é apenas uma construção social. Em 99.5% da população mundial o sexo e o género coincidem, mesmo antes de se ter inventado o fascismo, mas os factos são irrelevantes. Um outro dogma é a malignidade inata do homem heterossexual.
As lutas e conquistas fundamentais das feministas e dos movimentos gays são marcos civilizacionais de uma sociedade minimamente decente e foram deformadas pela teoria do género. Pelo meio há episódios estranhos, como por exemplo, um guia sobre a igualdade de género em que dos 15 autores só um é homem.
Um equívoco recorrente consiste em se utilizar nestes temas o conceito de ‘ideologia de género’. Não há ‘ideologia do género’. Uma ideologia é algo mais complexo e amplo que uma teoria específica. Uma certa direita cai nesse erro. A expressão ‘ideologia do género’ não tem sentido, mas o que dizer de outros conceitos risíveis como sociedade patriarcal? (estamos no século XXI no Ocidente) heteronormatividade? Masculinidade tóxica? e Heteroegofalocentrismo?
Com grande probabilidade, sempre que ouvirmos falar de género, estaremos perante um tipo de pregação de seita laica que domina esse tema de um modo lucrativo. Essa temática e os respetivas estudos (Gender Studies) surgiram no meio universitário norte-americano, depois chegaram à sociedade e conquistaram um lugar nos partidos políticos, que preocupados exclusivamente com a manutenção do seu poder, integram tudo o que são modas ou que pode ser contestatário. O Ocidente preocupado apenas com a economia abdicou de tudo o resto e deixou proliferar estas falsificações que substituíram a ausência de valores, incompatíveis com a ideia hiperliberal de crescimento ilimitado. Este tipo de teorias bizarras acabaram por conquistar posições de influência preocupante na educação e a justiça. O seu principal logro faz-nos querer que é sobre inclusão, igualdade e cidadania, o que é falso. Reproduz apenas as diatribes da teoria queer e de um neofeminismo 3.0 do ódio ao homem, ao feminino, à família e à cultura ocidental.
Numa sociedade que não estivesse dominada pelo consumo e pelo espetáculo, esta teoria do género seria apenas uma anedota divertida. Assim é apenas um conjunto de disparates erigidos a dogmas ditos progressistas que não podem ser problematizados ou sequer criticados. Quem o fizer será rotulado de detentor de várias fobias e pendor criminal.