É muito comum vermos crianças a fazer birras. Muitas vezes irrompem nos parques infantis, onde as crianças estão empolgadíssimas e muitas vezes cansadíssimas – dois ingredientes perfeitos para uma bela birra – mas também podem acontecer no supermercado, na rua, numa loja ou num restaurante. Ou seja, ao contrário do que desejaríamos, as birras não escolhem hora nem lugar. São imprevisíveis, incontroláveis, genuínas. E ninguém lhes fica indiferente. Se nos parques infantis que são frequentados principalmente por crianças e os seus pais ou avós os olhares são sobretudo de compreensão, solidariedade ou alívio – do género ‘ainda bem que não me está a acontecer a mim e obrigada por me mostrar que o seu filho faz birras tão grandes como o meu’ – nos outros sítios, além destes há também aqueles olhares zangados que rotulam os pais de incompetentes e os filhos de mal-educados. Há até quem se dirija aos pais ou às crianças para os repreender. E os pais, coitados, que já só procuravam um buraco onde se pudessem esconder com o seu pequeno diabrete, além de se sentirem envergonhados, agrafam a si esse atestado de incompetência, de falhanço em toda a linha, na educação do filho.
Acontece que as birras não têm nada a ver com falta de educação. Essa poderá eventualmente ser avaliada passados uns bons anos, quando os filhos deixam de ser crianças e já têm idade para lidar com a zanga e a frustração de outra forma. Mas ainda assim é preciso olhar para comportamentos desadequados com compreensão.
As birras acontecem simplesmente porque a criança ainda não tem maturidade suficiente para lidar com as emoções – e fatores como o cansaço ou a fome não ajudam. A zanga e a frustração acontecem na criança como em nós, elas estão lá, só que ainda não conseguem ser pensadas nem controladas e saem nas formas mais inesperadas e desequilibradas. A criança grita, chora, atira-se para o chão e às vezes chega até a bater aos pais de tão furiosa que está. Todas as explicações e chantagens que lhe forem dadas no momento não vão mudar nada. A criança simplesmente não consegue parar, não se consegue controlar. Por isso não vale a pena fazer chantagens ou promessas impossíveis. Mas as palavras dos pais também não caem em saco roto, a criança ouviu e mais tarde vai lembrar-se delas.
Vale a pena ter uma atitude de calma e compreensão e ensinar a melhor forma de se Vcomportarem, explicar o que é e não é adequado. Não se vai resolver nada naquele momento, mas vão aprendendo que não é assim que se espera que se comportem.
Os pais não são incompetentes por o filho pequeno fazer uma birra ou mesmo se lhes chegar a bater. Não é nada agradável, mas não faz da criança nem um monstro nem uma criatura sem educação. Só mostra que confia nos pais para receberem a sua agressividade, a sua fúria e frustração, os seus sentimentos mais difíceis, com que ela ainda não sabe lidar e que eles são suficientemente fortes e compreensivos para os receber e devolver de forma mais organizada. Crianças que não expressam a sua zanga, que sentem que os outros não podem receber as suas emoções mais difíceis, acabam por infleti-las e esse será o caminho da culpa, da solidão e da infelicidade. É importante que a calma impere e que, juntos, consigam aprender a lidar com estes sentimentos genuínos e impiedosos.