Nem sempre as melhores decisões, para cada um de nós, são óbvias. Feliz ou infelizmente, o diabo mora nos pormenores, e esses fazem toda a diferença. De tanta informação que circula diariamente pelas mentes jovens deste país, e de tantas experiências que nos são proporcionadas pelas normas sobre as quais nos regemos, julgo faltarem ferramentas básicas para tomada de decisão.
Para variar um pouco, acredito que a razão primeira pela qual não são tomadas melhores decisões é a existência e transmissão de um conjunto de crenças e normas limitadoras. É possível observar-se isso em relação à formação académica, às economias pessoais, mercado de trabalho, entre muitos outros contextos.
É comum ouvir-se que «o sistema de educação atual funciona e, como tal, equipa que ganha não mexe». De facto, o sistema de educação atual funciona, na medida em que produz ‘resultados’: cidadãos formados, capazes de transformar parte das suas competências em trabalho, e esse trabalho em rendimento.
Ainda assim, sou descrente de que a não atualização do formato arcaico atual seja a decisão ideal, uma vez que os resultados do já conhecido ‘sistema’ são claramente ineficientes e completamente desajustados à circunstância atual. São poucos aqueles que, bem formados, sem culpa, estudam pelo menos cinco anos, e terminam sem um conhecimento primário e essencial relativo ao funcionamento da economia, obtenção de empréstimos, leis do país, para não falar de autoconhecimento, gestão emocional, entre muitos outros assuntos e ferramentas.
Como vemos, resultados não são a demonstração absoluta de que uma determinada decisão é boa, mas sim a comparação de resultados entre diferentes alternativas. A consequência natural da ambiguidade é a desigualdade. A amplitude de desigualdades sociais e capacidades existentes é resultado, especialmente para os jovens, da diferença (acumulada no tempo) entre os benefícios das melhores decisões possíveis e as decisões efetivamente tomadas.
Poupar é bom: gera uma segurança para alguma eventualidade. Poupar para investir (e gerar mais rendimento) é melhor: riqueza é a capacidade para gerar mais capital, não a quantidade atual que se possui. Da mesma forma, seguir uma carreira profissional e segui-la até ao fim é bom, mas mitigar riscos e mudar enquanto podemos é melhor. É bom ter-se bem-estar, mas é melhor ainda se tivermos mais bem-estar.
Em última instância, na maior parte das situações, não são tomadas melhores decisões por se considerar o passado como conteúdo elegível para se decidir o melhor para o futuro. Se eu pensar que, por ter ‘desperdiçado’ dois anos da minha vida a estudar um curso o devo levar até ao final, arrisco-me a pagar o que eu gosto de chamar «custos ninja», e habilitar-me a trocar dois anos de aparente atraso por muitos mais de infelicidade. A escolha é do leitor.