Para acabar de vez com a confusão do termo ‘socialismo’!

Há grande afinidade entre os partidos na Europa ditos ‘socialistas’ (à imagem do PS de Mário Soares) e os liberais

O comentário atento de um leitor ao texto que publiquei em O Nascer do Sol (Incompatível com a liberdade e a prosperidade) suscita-me o que tem também pretensão de ser um alerta para equívocos em que liberais incautos incorrem. 
 
2. A dimensão social está no pensamento liberal, desde logo no fundador. E foi nas sociedades liberais que, primeiro e melhor, foi ‘politicamente’ realizada. Neste sentido, seria redundante a expressão ‘social-liberal’, não fora a confusão ocorrida na Europa – por peripécias histórico-políticas conhecidas – no uso dos termos ‘comunismo’ e ‘socialismo’. Termos que no mundo anglo-saxónico designam uma e a mesma ideologia totalitária. 

 Há, portanto, uma destrinça histórica fundamental a fazer entre o europeu ‘socialismo/social-democracia’ – que é parlamentarista, pluralista e cioso das liberdades – e o ‘leninismo/comunismo/bolchevismo’ – que degradou e atraiçoou aquele socialismo e até, para muitos, nalguma dimensão, o pensamento de Marx. Para não falar da nossa tradição socialista pluralista ‘anteriana’.

Abstraindo da doutrina, do mesmo modo que há socialistas e socialistas, o mesmo se passa com os liberais nas suas expressões partidárias: os liberais canadianos são muito diferentes dos liberais japoneses, ou os holandeses dos ingleses, ou mesmo dos alemães, etc.

 E quantos saberão que a presença do Estado nas invejáveis economia e realidade social da Suécia era/é muito menos intervencionista/estatizante do que na França desde De Gaulle até… hoje?!

 Há, portanto, afinidade próxima entre os partidos ditos na Europa ‘socialistas’ (adversários dos comunistas) e os liberais, seja qual for o nome que adotem. É natural, por exemplo, a aliança atual na Alemanha entre o SPD (partido social-democrata, irmão do nosso Partido Socialista herdado de Soares) e os Liberais. Realidade que remete, se quisermos usar a velha classificação esquerda/direita/centro, para o grande bloco que consubstancia a democracia-liberal, onde os partidos chamados liberais estiveram sempre e à esquerda. 

Dentro desta área, o compromisso político e o entendimento governativo são possíveis, E é por isso que a entrega de poder por António Costa aos inimigos da liberdade e do progresso é politicamente imperdoável. 

Será a esta luz que deve interpretar-se o impulso de aparente arrependimento do primeiro-ministro perante a evidência dos argumentos de Cotrim de Figueiredo: «Também sou um liberal» (cito de memória). 

3. Relativamente ao delírio, à libertinagem das novas causas ditas societais, cavalgadas e promovidas pelos órfãos do marxismo – identitarismo e política de género, invenção de racismo e outras barbaridades obscurantistas que confundem muitos liberais incautos –, nada têm de liberalismo. 

 Ferem, bem pelo contrário, princípios nucleares das sociedades democrático-liberais: a liberdade de pensamento e de expressão e os princípios do Estado de direito democrático, eles próprios instituídos pelo liberalismo. Negam a evidência científica e violam, materialmente, com experimentações físicas mengelianas, a natureza humana. 

 Os liberais têm de estar na frente de mais este combate mortal, agora aos novos obscurantismos, totalitarismo porventura ainda mais apocalíptico.

Quanto à IL, é um fenómeno interessante que precisa no entanto de ganhar substância, precisão teórica, e implantar-se no terreno também com uma ação pedagógica sobre os princípios fundadores essenciais e fecundos do liberalismo. Se quiser sobreviver e firmar o partido liberal informado e forte que urge em Portugal.