Os pesadelos surgem desde muito cedo na vida dos mais pequenos e podem ser vividos com muita angústia, chegando a fazer algumas crianças terem receio de ir dormir.
No fundo, o processo dos pesadelos é idêntico ao medo do escuro, em que a criança fica sozinha, envolta na escuridão e a imaginação se desenrola, tomando conta do pensamento racional. De mão dada com os seus receios, leva-a a transformar o que vê, ouve ou imagina, naquilo que não existe e que mais teme.
Os sonhos são memórias de situações que vivemos, sítios que visitámos, pessoas que vimos, sensações que conhecemos, que se cruzam e formam uma história, mais ou menos lógica, de acordo com os nossos desejos ou receios.
Um pesadelo é como um sonho falhado, que até pode começar bem mas torna-se demasiado angustiante e insuportável, chegando ao ponto de nos fazer acordar para não o vivermos.
Ainda hoje acordei de um pesadelo assim, que não consegui acabar. Era demasiado terrível para que o conseguisse viver e acordei antes do insuportável desfecho, aterrorizada, com o coração a bater aceleradamente, o peito colado às costas e ainda fiquei alguns segundos a tentar perceber se afinal estava tudo bem, se tinha sido só um sonho.
Naquele momento pensei nos meus filhos, no medo que sentem quando acordam a meio da noite, sozinhos e apavorados enredados naquelas histórias insuportavelmente assustadoras que os confrontam com os seus maiores receios. Ainda mais quando ainda são muito pequenos e não conseguem distinguir com clareza a realidade do imaginário. Muitas vezes as crianças correm para o quarto dos pais a pedir ajuda e conforto. E os pais abraçam-nas e sossegam-nas.
É importante que depois as vão pôr novamente à cama e que não passem a ideia errada de que eles não são suficientemente fortes e corajosos para enfrentarem os seus pesadelos sozinhos ou que são incapazes de voltar a adormecer nas suas camas.
Os pesadelos não são mais do que o fruto da nossa imaginação e, desde que esta se começa a desenvolver, ganham vida. Durante o crescimento apercebemo-nos cada vez mais dos perigos e limitações, a ter contacto com situações, imagens ou ideias assustadoras, que muitas vezes ficam por compreender e a habitar o nosso pensamento mais recôndito.
Por isso, não há nenhuma fórmula para os impedir de existir, mas podem ser aliviados. Por exemplo, uma vez que são construídos através de memórias, é de evitar o contacto com imagens e conteúdos a que muitas vezes os mais pequenos têm acesso que não são adequadas à sua idade e os assustam, preocupam e intrigam. Intrigam tanto que os levam para os sonhos para os tentar compreender. Por outro lado, é bom que a hora de deitar possa ser uma preparação para um sono tranquilo e por isso uma enorme agitação ou a exposição a ecrãs nessa altura terá piores resultados do que uma rotina que começa a introduzir a criança no sono. Ler uma história antes de ir dormir, por exemplo.
Por outro lado, ouvir e desmistificar pesadelos, conversar e apoiar a criança, dar-lhe segurança e fazê-la a acreditar que consegue lidar com o seu medo, também a irá ajudar a lidar com os seus pesadelos.
Mas, tal como na vigília não temos só momentos bons ou só sentimentos positivos, também os pesadelos – em maior ou menor número e grau – farão sempre parte do nosso sono. Melhor ou pior, todos os vivemos e ultrapassamos. O maior pesadelo seria não ter pesadelos. Ter uma vida tão pobre, monótona, sem conflitos, dúvidas ou tão desinteressante que nada teríamos a temer. Ou uma incapacidade para imaginar tão grande, ou um medo tão grande de arriscar, que o sonho seria o óbvio, sem surpresa ou novidade.