O impacto do ciberataque fez-se sentir em estruturas essenciais da sociedade, nomeadamente, nas entidades da Proteção Civil. A partir da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Carcavelos e São Domingos de Rana, no distrito de Cascais, o comandante Paulo Santos explica que “qualquer cidadão, ao ligar para o 112, consegue aceder aos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU)”, mas há situações que não são devidamente acauteladas e, no caso desta corporação, podia ter existido um desfecho trágico relativo a um doente ao qual prestaram socorro.
“Se há alguém que faz o pedido à porta do corpo de bombeiros, por exemplo, o INEM exige que seja feita uma triagem. Ontem, por acaso, recebemos um pedido, enviámos de imediato a nossa ambulância INEM e comunicámos essa orientação ao CODU. O INEM não conseguiu fazer a triagem à pessoa e, como tal, não considerou emergência”, explica o profissional que iniciou atividade como aspirante na secção destacada dos Bombeiros Voluntários de Santarém em Alcanede, em julho de 1987.
“Fizemos o transporte, a pessoa entrou diretamente para a reanimação e o INEM não vai pagar sequer o transporte. Esta situação deve ter-se replicado em muitos locais, nomeadamente, no Interior, onde as pessoas têm mais afinidade com o quartel da sua zona de residência”, sublinha o comandante que já participou em várias operações de socorro, como no âmbito do combate a incêndios florestais.
Para além deste problema, “diversos rádios falaram em simultâneo e acabou por causar bastantes constrangimentos”, sendo que não pode “negar” a inexistência de obstáculos. “Como comandante, estranho que uma central como o CODU esteja dependente de uma só linha. A população teve dificuldades não só no âmbito da emergência pré-hospitalar, mas também no transporte de doentes”.
“O mais provável é que o improvável aconteça e foi um desses dias”, conclui o bombeiro que foi condecorado com a medalha de Dedicação (30 anos) da Liga dos Bombeiros Portugueses há três anos. A seu lado, Paulo Ribeiro, bombeiro de 3.ª classe da mesma unidade, reconhece que, como cerca de quatro milhões de portugueses são clientes da Vodafone, “não ficaria surpreendido se casos como aquele de que o comandante falou tivessem sido registados”.
“Na nossa corporação houve problemas. Por norma, quando isto acontece, as pessoas acabam por ligar para o 112 ou 117. E através disso, o INEM entra em contacto com os bombeiros via rádio. Porque se os telefones não libertarem a rede, não dá”, conta, apontando que a Liga dos Bombeiros Portugueses “não tem dinheiro suficiente para tratar de um assunto como este” porque “aquilo que está em causa é a segurança do país” e modernizar as comunicações “trata-se de um investimento muito grande”.
“O Estado tem de investir. Acho que podemos vir a ter problemas. Isto preocupa-me muito porque as pessoas vão ficar sem o auxílio necessário, não vamos conseguir ajudá-las como queremos e devemos”, finaliza.