Uma realidade inspirada em factos reais

Metaverse é um conjunto de espaços virtuais, a que acedemos recorrendo à realidade virtual e nos quais interagimos com outras pessoas, instituições e acontecimentos através do nosso avatar

1984 é para muitos o melhor anúncio de sempre, seguramente um dos mais conhecidos. Uma mensagem poderosa embrulhada numa produção arrojada e um minuto no intervalo do SuperBowl foram os principais ingredientes para o enorme sucesso da campanha que apresentou o Macintosh ao mundo. Serve este anúncio para exemplificar como o tema das realidades distópicas, ‘big brotherianas’, funciona bem enquanto metáfora da privação do exercício da liberdade plena e de como tem sido explorado na literatura ou no cinema com inegável sucesso. Certamente funciona.

É inegável a curiosidade, desejo ou receio – é válida qualquer combinação dos três conceitos – que sentimos pela experiência de outras realidades. No dia a dia, usamos nicknames e avatares para, no semi-anonimato do ciberespaço, sermos como gostaríamos de ser e fazer muitas coisas que no mundo físico não seria possível fazer. A necessidade de escape e até de alienação são intrínsecas ao ser humano. Nunca tivemos uma solução tão fácil de acesso a uma experiência verdadeiramente imersiva noutra realidade. É isso que o Metaverse permite, ou que vai permitir num futuro próximo: espaços virtuais, tridimensionais e acessíveis através da realidade virtual.

Hoje, o Metaverse é um conjunto de espaços virtuais, a que acedemos recorrendo à realidade virtual e nos quais interagimos com outras pessoas, instituições e acontecimentos através do nosso avatar. Porém, a vertente tecnológica é apenas uma parte, e a menos surpreendente, do potencial do Metaverse. Imaginemos que ir para o trabalho significa colocar uns óculos e entrar numa outra realidade onde existe um espaço da nossa empresa, com os nossos colegas (avatares) a circularem e interagirem uns com os outros, onde fazemos reuniões com pessoas sentados na mesma sala a acompanharem o mesmo documento. 

Porém, o maior impacto que o Metaverse terá será certamente nas relações interpessoais. Se pensarmos no Metaverse enquanto uma rede social tridimensional, que permite interações sofisticadas e a compararmos com aquilo que hoje acontece no Facebook ou no Instagram (cuja companhia mudou recentemente de nome para meta), rapidamente ganhamos noção do impacto que poderá ter. Se pensarmos como as redes sociais impactaram as nossas vidas nos últimos anos, imaginemos agora uma rede social aditiva como uma experiência social completamente imersiva, onde participo mesmo no concerto e efetivamente convivemos em casa uns dos outros! 

O desenvolvimento do Metaverse tem sido liderado pela indústria dos jogos, desde sempre habituados a criar mundos virtuais e respetivas dinâmicas. São precursores e, previsivelmente, um dos conteúdos mais importantes que continuarão a existir no Metaverse. Mas não serão os únicos e terão de conviver com uma série de outros. Por enquanto, é no universo dos jogos que encontramos as melhores aproximações ao que será o Metaverse, como por exemplo quando um artista organiza um evento musical com fãs dentro do cenário do Fortnite – sim, o jogo de que todos conhecemos. 

Para já, o Metaverse ainda não é uma realidade plena. Há um enorme caminho a fazer até que todos os mundos virtuais que já existem, mas dispersos, possam estar ligados uns aos outros, que façam parte de um só espaço onde os nossos avatares circulam livremente. Esse caminho poderá não demorar assim tanto tempo, pois outros fenómenos terão um efeito acelerador no seu desenvolvimento. São vários, mas destaco as criptomoedas, que são cada vez mais populares e que serão uma das chaves do sucesso do Metaverse, que terá de ter um sistema financeiro. 

Metaverse está só a começar, sendo-lhe já reconhecido um enorme potencial transformador que, talvez um dia, chegará a realizar. Por enquanto, ainda é cedo para dizer. Seja o Metaverse ou qualquer outra forma de acesso digital a uma realidade paralela, é altamente provável que tenhamos de desenvolver novas economias, criar um sistema judicial e modelos de governação, algumas das principais bases de qualquer sociedade. Ou será que o Metaverse é uma revolução tão mais profunda, que irá originar uma sociedade ainda mais diferente, ou distante, daquela que hoje conhecemos? 
Num caso ou noutro, as marcas vão ter de encontrar o seu espaço no Metaverse. Algumas já o fazem, pois se for para errar quanto mais cedo melhor. Se for para acertar, também.