Mesmo depois de ter feito um acordo extrajudicial com a mulher que o acusa de ter agredido sexualmente, continuam a ser feitos apelos para que seja retirado ao príncipe André de Inglaterra o título de Duque de Iorque.
De acordo com um documento, consultado pela Sky News, enviado a um tribunal dos EUA, os dois terão chegado “a um acordo”.
“O príncipe André pretende fazer uma doação à instituição de caridade de Virginia Giuffre, em apoio aos direitos das vítimas”, adiantaram, sem avançar nenhum número.
“O príncipe André nunca teve a intenção de difamar o caráter de Giuffre”, acrescenta o documento. “Sabe-se que Jeffrey Epstein traficou inúmeras raparigas ao longo de muitos anos. O príncipe André lamenta a sua associação a Epstein e elogia a bravura de Giuffre e outras sobreviventes em defenderem-se a si mesmas e aos outros. Ele promete demonstrar o seu arrependimento pela sua associação a Epstein, apoiando a luta contra o tráfico sexual e apoiando as vítimas”, completaram.
Numa carta endereçada ao juiz Lewis A. Kaplan, os advogados não revelam os termos do acordo, mas pedem-lhe que “suspenda todos os prazos” do julgamento, que tinha início previsto para o próximo outono, embora não houvesse uma data definida.
Em janeiro, o Palácio de Buckingham já tinha emitido um comunicado no qual informava que tinham sido retirados os títulos militares e reais de príncipe André, na sequência da acusação de abusos sexuais, um anúncio que surgiu depois de um juiz de Nova Iorque ter rejeitado a tentativa de André de anular o processo, ao recusar arquivar a queixa de acusação.
Apesar do caso ter sido tratado fora de tribunal e das acusações terem caído, há quem continue a defender que André deva sofrer consequências, nomeadamente, a retirada do título de Duque de Iorque.
“Embora seja um alívio que o príncipe Andrew finalmente tenha reconhecido e expressado arrependimento pela sua associação com o criminoso sexual condenado e traficante sexual, Jeffrey Epstein, a longa demora a fazê-lo e a resposta inicial às acusações de Giuffre são de profunda mágoa e constrangimento para muitas pessoas da cidade”, afirmou a trabalhista, Rachael Maskell.
“Carregar este título cria uma relação de embaixador com a cidade, e para um lugar com uma reputação global, como é o caso de York, isto é extremamente importante. É de saudar que ele agora tenha-se comprometido a apoiar a luta contra os males do tráfico sexual e suas vítimas”, conclui Maskell, citada pelo Guardian, acrescentando que “para demonstrar a seriedade do seu esforço” este deveria rejeitar o seu título de Duque.
Numa altura em que um estudo indica que 88% dos cidadãos de York desejam que André renegue este título, segundo um trabalho realizado pelo jornal local, Press, parece que todos rejeitam a ligação do monarca com a cidade.
Em janeiro, o Castelo de Holyroodhouse, uma das propriedades da Rainha Isabel II, em Edimburgo, foi vandalizado, podendo atualmente ler-se num dos muros que circunda o castelo “casa de pedófilo”, uma ofensa dirigida ao monarca.
“Tendo sido destituído das suas honras militares e reais pela Rainha, isto deveria significar o fim de sua ligação direta com a nossa grande cidade”, disse o vereador liberal, Darryl Smalley, citado pelo jornal inglês. “A conexão única de York com a coroa e à monarquia é uma parte importante do legado e história da cidade, é uma grande fonte de orgulho. O Palácio de Buckingham e o governo devem considerar as implicações destas preocupantes alegações daqui para a frente”.
Em relação à destituição de André, a Rainha ou os Membros da Família Real, que se recusou a comentar os mais recentes desenvolvimentos deste caso, reportou a Reuters, não pode remover títulos de nobreza, esta ação teria que ser liderada pelo Parlamento, através de um estatuto aprovado pela Câmara dos Comuns e dos Lordes.
Giuffre, de 38 anos de idade, apresentou ação judicial contra André no passado mês de agosto e acusou o príncipe de tê-la abusado sexualmente na casa da socialite Ghislaine Maxwell, em Londres, e em propriedades pertencentes ao financiador Jeffrey Epstein, que foi condenado por abuso sexual e que se suicidou na prisão em 2019. André nunca chegou a ser acusado oficialmente deste crime.
Na carta assinada pelo advogado do príncipe britânico, David Boies, a sua equipa de defesa informa o juiz de que vai apresentar um pedido de arquivamento do caso no prazo de 30 dias.
O juiz Kaplan tem agora o poder de arquivar o caso, bem como de manter secretos os termos do acordo extrajudicial.
Por meio desse acordo, assinado em 2009, Giuffre desistia de perseguir judicialmente Epstein “e outros potenciais acusados” pelos casos de abuso sexual, em troca do pagamento de meio milhão de dólares.
Este juiz já rejeitou, em dezembro, o arquivamento do caso em resposta a um pedido da defesa assente num acordo assinado por Giuffre (que agora tem 38 anos e reside na Austrália) e pelo falecido magnata norte-americano Jeffrey Epstein, que foi quem alegadamente apresentou a jovem ao príncipe André.
O juiz considerou, na altura, que as acusações contra André não eram as mesmas que contra Epstein e que o caso seria julgado noutra jurisdição.