O mau e o bom feminismo

Penso nestas ícones do feminismo do ódio comparados  com seres humanos como Simone Weil e a sua exigência de dignidade e decência.

Por João Maurício Brás 

Ser antifeminista é hoje defender um feminismo fundamental que foi descaracterizado por um pseudofeminismo repleto de rancor, típico do liberalismo cultural e de esquerda pós-moderna que paga mal à empregada africana mas vai à festa contra o homem masculino.

Algumas referências daquilo em que se transformou o feminismo oficial das nossas democracias doentes: «Eu sinto que ‘ódio ao homem’ é um ato político honorável e viável», Robin Morgan, «Eu quero ver um homem espancado até (ser reduzido) a uma massa sangrenta com um sapato de salto alto enfiado em sua boca, como uma maçã na boca de um porco», Andrea Dworkin, «O casamento constitui a escravidão para as mulheres», Sheila Cronin, «Quando uma mulher atinge o orgasmo com um homem, ela está apenas a colaborar com o sistema patriarcal, erotizando a sua própria opressão», Sheila Jeffreys, «Politicamente, falamos de estupro sempre que uma mulher tenha sexo e se sinta violada», Catherine MacKinnon, «Se qualquer uma  [mulher] for processada por uma falsa acusação, então as vítimas de ataques reais terão menos possibilidade de denunciá-los», David Angier. Se for um homem a dizer estas frases ou uma mulher normal, será crime.

Penso nestas ícones do feminismo do ódio comparados com seres humanos como Simone Weil e a sua exigência de dignidade e decência.

Weil foi um ser humano e uma filósofa extraordinária. O tema do enraizamento é central no seu pensamento em ato. Ela foi de certo modo uma mártir da sua humanidade, do seu ideal de justiça e espiritualidade patente na sua radicalidade de ser, dar e exigir. A diferença da profundidade do seu espírito com a deliquescência mental do fundamentalismo do feministão do género do século XXI é brutal. 

Um outro exemplo. Recentemente assisti a Nasrin, um documentário sobre outro ser humano extraordinário. Ouvi falar da iraniana Nasrin Soutodeh em 2011 e pensei em quão caricatos e rancorosos se tornaram certos ativismos e no caráter exemplar e na coragem de algumas pessoas. A luta de Nasrin – que é a sua vida – centra-se principalmente no combate fundamental contra o espezinhamento dos direitos humanos concretos, neste caso, das mulheres e do muito que há ainda por fazer em todo o planeta. 

Comparar pessoas como Nasrin com as modas dos feminismos de 4.ª vaga que andam a mostrar a mama e com as histerias do piropo e da moda do vitimismo e o ódio ao não emasculado, dá para ver bem o que são lutas fundamentais e o que é apenas ódio larvar e destruição. Em Nasrin não há teorias bizarras nem vitimismos cínicos e militantes, nem oportunismos políticos, mas lutas cruciais, concretas, ano a ano e dia a dia. A dignidade humana (que não distingue brancos de negros, mulheres de homens, homos de heteros) e as lutas nobres são acerca de sociedades decentes, não de grupos contra grupos. Se temos mulheres como Weil e Nasrin porque nos vergamos ao que Paglia chama de «lixo identitário e vitimista?».

Distingamos o feminismo da igualdade que combate a discriminação sexual e outras formas de injustiça para com as mulheres do feminismo do género que defende que as mulheres são escravizadas por um sistema omnipresente de dominação por parte do macho, o denominado sistema de género. Os seres humanos ao nascerem seriam bissexuais e transformariam as suas personalidades de género homem ou mulher, o primeiro destinado a mandar, a segunda destinada a obedecer.