Por José Allen Lima, Antigo Administrador da REN
A seca prolongada e o baixo stock de água nas albufeiras, o fecho do Pego a carvão e os custos elevados dos combustíveis e de emissão de CO2 têm dado polémica. Teria sido possível guardar mais água, com regras para isso, como no Alqueva, recorrendo a maior apoio térmico. E era viável sem o Pego, porque a utilização das centrais de ciclo combinado a gás natural (CCGTs) tem estado por 45%.
O recurso a mais importação seria difícil, pois o país tem sido recordista. Economicamente, as importações são benéficas para o importador e o saldo nacional foi quase sempre importador porque Espanha é 5 vezes maior (sendo mais fácil encontrar alguma produção de ‘sobra’ mais barata para importação).
Mas nos anos recentes de 2016 a 2018 foi exportador, o que resultou do imposto adicional em Espanha para recuperar défice tarifário (e do lado português houve claw back sobre o diferencial). Mas será que as importações atuais são de socorro e não sobreviríamos sem elas? É a questão principal e não a de se estar a importar produção espanhola a carvão, já com reduzido peso, embora modere em algumas horas o preço marginal do MIBEL.
Apesar de salvos pela amenidade deste inverno, em termos de segurança teria sido sensato e prudente negociar uma extensão do Pego, em novos moldes, para assegurar os abastecimentos, que a própria DGEG – REN reconheceram não estar devidamente garantida (como reserva estratégica, por exemplo); a maior valia do Pego vinha da POTÊNCIA firme e não da pouca ENERGIA anual que produzia, por efeito da penetração renovável, do custo de CO2 e ainda do OE 2018, ao instituir de novo o ISP ao fim de quase 30 anos de isenção (teve mesmo o objetivo de acelerar o fecho de Sines).
E comprar carvão e guardá-lo no parque é muito mais acessível do que importar gás, o que coloca a questão: havia contratação de gás suficiente para aumentar esta produção ou era necessário ir adquiri-lo no mercado spot a qualquer preço ou usar gasóleo? Não sei, mas as alternativas são caras.
No quadro compara-se o balanço energético de dia bem representativo com as hipóteses simplificadas: A – sem importação e sem consumo para bombagem (o que cria o problema de não haver produção, por esta via, no dia seguinte) e CCGTs a 100%; B – idem, mas com avaria de um gerador CCGT; C – idem, mas sem a CCGT da Tapada do Outeiro (termo do contrato em 2024).
Conclui-se que o sistema nacional ficaria com défices, respetivamente, de: 6, 14 e 30GWh. Na permanência, se Espanha e França estivessem em situação de escassez, ter-se-ia, nos casos menos graves A e B, que afundar ainda mais as albufeiras e esperar que chovesse e/ou programar cortes de consumo. Para C, e como o Tâmega da Iberdrola traz muita potência mas pouca capacidade de armazenagem, e as novas fotovoltaicas estão ausentes na ponta noturna, o Plano Nacional de Clima e Energia deveria ser revisto com análises de benefício – custo fundamentadas.