Por João Rodrigues, advogado, vereador do urbanismo e inovaçãp da CM de Braga
«Devemo-nos, assim, reservar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante.»
Karl Popper, 1945
Quando António Costa e os partidos da extrema esquerda se juntaram para derrubar Pedro Passos Coelho, em 2015, o então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, impôs uma condição que muitos julgaram quase exotérica por redundante; uma condição que muitos consideraram ser apenas um pro-forma que o ‘mal intencionado’ Cavaco impôs para chatear os partidos extremistas: Cavaco Silva obrigou a que se celebrasse um acordo escrito de onde constasse, de forma expressa e entre outras, que nenhum dos partidos que o celebrava poria em causa a manutenção de Portugal na NATO.
Pois que, hoje, o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda deram-nos a certeza cabal de que, mais uma vez, Cavaco Silva estava certo e que todas as cautelas seriam poucas para assegurar aquela posição, com a invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin a instituir um novo ponto assente no panorama político português. Depois dos acontecimentos dos últimos dias, depois do mais vil ato de que há memória perpetrado na Europa do pós-Guerra, nenhum português poderá ter dúvidas acerca daquilo que representam o PCP e o BE.
Não mais pode um português duvidar de quem é que está do lado da liberdade e dos valores ocidentais e de quem é que, de forma clara, pública e notória, não está. O PCP, que votou ao lado dos eurodeputados da extrema-direita (Aurora Dourada grega e Liga Norte italiana) contra a resolução do Parlamento Europeu que repudiava a invasão, e o BE, que deu mil e uma cambalhotas nesta matéria, fazendo jus ao seu maleável sentido de oportunidade, mostraram, nas últimas semanas, que não partilham os ideais ocidentais da liberdade e de respeito pela democracia liberal e que são, no fundo e em singelo, assim como outros que dizem combater, um perigo que não devemos deixar passar.
Os portugueses não podem permitir que quem defende, de forma mais ou menos expressa, um homem como Vladimir Putin e um regime plutocrático como aquele que hoje impera na Rússia e se predispõe a imperar nos seus vizinhos, passe em claro no processo democrático. Quem está, numa questão como esta, do lado de regimes que controlam estados como a Coreia do Norte, a Bielorrússia, a Eritreia ou a Síria – de quem está do lado errado da história! –, não pode merecer o respeito ou, sequer, a tolerância dos portugueses.
O que se está a passar na Ucrânia é um ataque direto e inciso a cada um de nós, aos nossos e àquilo em que acreditamos e que nos custou muito a conquistar. É um ataque ao nosso mundo. Um mundo que temos o dever de proteger e pelo qual nunca, mas nunca, devemos ceder.
A partir de hoje, a resposta a dar ao PCP e ao BE não poderá ser diferente daquela que sempre defendemos dever ser dada a quem ocupa o espetro mais extremo da política: temos de lhes dizer não. Um não frontal, forte e sem cedências. Quem não nos tolera, não merece por nós ser tolerado.