Por Alice Vieira e Nélson Mateus
Querida avó,
Acabo de chegar do lançamento do livro Adolescência, da tua grande amiga Leonor Xavier. Venho de alma cheia.
Dois anos depois voltei a um lançamento de livros. E logo este livro, esta autora. Não cabia mais ninguém na sala. E que bom que foi.
A tua amiga, e também jagoza, Inês Pedrosa fez uma belíssima apresentação do livro.
Como não podia deixar de ser, as idas da Leonor Xavier à Ericeira foram referidas na apresentação, com Inês Pedrosa a relembrar um episódio, insólito, vivido entre as duas no mar da praia do Sul, onde tu passas grande parte dos dias.
Este livro não é de todo um livro póstumo!
Aliás, Leonor só não esteve presente fisicamente na apresentação do livro.
Este livro é o resultado de arrumações entre gavetas, estantes, livros, papéis, cartas, postais, onde Leonor reencontrou o seu diário (entre 1956 e 1960).
São literalmente os Retratos Contados de quatro anos, que correspondem à Adolescência de uma escritora que era vista por uma amiga por tanta gente. Sabes que muitos a consideraram adolescente até ao seu último dia de vida.
Não posso dizer que fui seu amigo, ou que já li imensos livros da Leonor, pois isso não é verdade!
No entanto, jamais irei esquecer as vezes que estivemos juntos nas festas dos teus aniversários, e, principalmente, o dia em que a Leonor Xavier nos convidou para uma tertúlia, na Igreja do Rato, sobre crentes e não crentes.
Aquele prós e contras sobre Religião, um tema tão querido à Leonor, fez com que nos tivesse aproximado bastante.
Como teria sido a sua vivência no Brasil, ao longo de 12 anos? Como seria a Leonor Xavier mulher, mãe, avó, jornalista, observadora, cristã, disruptiva, biógrafa, que lutava contra as desigualdades da sociedade?
Estava capaz de fazer uma exposição sobe a sua vida e obra.
Conta-me tudo sobre a vossa amizade, duas mulheres, nascidas no mesmo ano, que serão eternamente adolescentes.
Bjs