Por Octávio Rebelo da Costa, 1º Subscritor da Moção “A SOMA QUE DÁ UM” ao XXIXº Congresso do CDS-PP
É pública e conhecida por todos a situação que o partido atravessa. Não é surpresa nem novidade para ninguém. Pouco me importa, honestamente, de quem é a culpa. Importa-me sim que o CDS-PP funcione, porque continua de facto a fazer falta a Portugal.
O problema não nos é exclusivo. As democracias pluralistas ocidentais enfrentam há algum tempo uma crise profunda de representatividade, e toda a crise numa democracia representativa passa necessariamente pelos partidos políticos, que são o canal e o instrumento (apesar de não parecerem) relevantes de representação política. Valoriza o clientelismo e o servilismo em detrimento das ideologias e do serviço ao outro. O chamado e visivelmente ausente: serviço público.
É essa responsabilidade que deve e tem de ser imputada às máquinas partidárias: a de ficarem perto do seu eleitorado, no terreno, fazendo valer a sua voz. Mas a política em geral é hoje, infelizmente, uma completa inversão de papéis.
A política hoje ignora o cuidado e eleva o despropósito. Escarnece o respeito e bate palmas urrando à brejeirice clubística. Premeia tudo o que seja para disfarçar, alterar e ridicularizar a função objetiva e concreta de um político. Uma verdadeira desorganização onde tudo se passa e nada nem ninguém se responsabiliza, haja pão e circo.
Enquadrado o leitor, vamos voltar ao que me traz por aqui: o CDS-PP, onde enquanto andarem os ditos barões a brincar aos delegados de turma ou às associações de estudantes se destrói por completo a democracia interna, morre o partido, perde Portugal e os portugueses. Como diria o ilustre Dr. Ricardo Lima “- O CDS tem de sair do condomínio.”
O partido precisa de uma mensagem clara, de estrutura, de programa e de equipa. É urgente parar de apontar os dedos para dentro, de procurar saber quem é mais ou menos puro, mais ou menos culpado, ou para onde fugiram os filiados quando o barco se está claramente a afundar.
Enquanto o sufrágio interno for feito (quando é feito) por um reduzido número de congressistas elitistas e eleitos com base nesse mesmo elitismo (eleitos alguns em concelhias fantasma, caciquismo ou com esquemas de secretaria), enquanto o mote for arregimentar ao invés de ouvir, contar espingardas ao invés de dialogar, esta cisão interna perdurará até à marcha fúnebre do CDS.
É uma crise que tem o seu cerne incontornável no processo inexorável de burocratização e oligarquização (que acontece em bom rigor em qualquer organização) levando a este déficit de democracia interna. São as reuniões magnas sempre cheias dos mesmos e das mesmas práticas: palmadinhas nas costas, o onanismo dos discursos, o lavar roupa suja e o clássico fumar cigarros do lado de fora da porta – onde ficou também a legitimidade destes para timonar seja o que for. Quanto mais o partido…
“A” apresenta como solução não ser “B”, já “B” garante não ser “A”. Então quem é afinal o CDS? Políticas para o país continuam secundárias e remetidas à gaveta que ninguém quer saber. É obvio e experimentado que isto só fomenta mais e mais a fuga de quem quer pensar, o romper do sentimento de pertença e do espelhar das preocupações. Contudo, não sou eu que o digo, convido o leitor a pensar qual foi a medida que o fez votar no CDS, mesmo sabendo a resposta: não votou.
Os partidos vivem de eleitores, não são os eleitores que vivem para os partidos, como as lideranças vivem de proximidade ao militante. Parece uma lógica simples e até simplista, no entanto a política do quotidiano é feita de jargões vazios, soundbytes e pontes derrubadas.
Prova que isto importa de forma parca e residual ao país real, é o amargo resultado nas urnas, traduzido em apatia e conformismo pela falta de resposta das instituições que detêm de facto essa obrigação.
Como sanar esta situação? Francamente, é urgente que a eleição do próximo líder seja legitimada ao sufragar dos militantes, é nesse universo que o partido se deve rever. Assim há que reformar os estatutos: escrutínio e eleição por parte das bases, a eleição direta do Presidente do Partido, abrindo o Partido à participação ativa dos militantes de base.
Não mais separar. Mas sim congregar, convergir, debater e unir. Só com eleições diretas, ouvindo todos os que ainda acreditam e não só esta ou aquela facção. Ouvindo soluções em vez de crispações. Ouvindo e, atendendo aos reais problemas do País, mas aqueles que assolam o eleitor, porque de novelas tristes já está a televisão cheia.
Como diria o excelentíssimo Prof Adriano Moreira: -"É preciso que as pessoas em primeiro lugar estudem os problemas do país, apontem as soluções que lhes parecem razoáveis, e deixar aos outros o trabalho de colocar as etiquetas. Que é o trabalho mais fácil."
Milito orgulhosamente um partido Humanista Personalista, como transcrito na nossa declaração de princípios: “Defendemos o humanismo personalista porque ele é, mais do que qualquer outra ideologia, o melhor caminho através do qual se procura combater a exploração e a opressão do homem pelo homem."
Um humanista não expulsa, ouve, compreende e acolhe. É este o partido que quero militar, pois a minha facção é a humanista, é a pluralista, é o CDS inteiro. Foi assim que me explicaram como funcionava o partido quando em pequeno cheguei e tão bem fui recebido pela Drª Eunice Baeta e pelo Arqº Silvino Malho Rodrigues em Sintra. Um deles já nem no partido está…
Por acreditar que esta disputa cíclica e egocêntrica por lugares e razão, de lideranças divididas e do aceso debate ideológico, em detrimento do pragmatismo necessário a qualquer instituição democrática e típico de um partido que acredita no verdadeiro conservadorismo moderno burkiano (bem como a aplicação dessa própria democracia pluralista debaixo do próprio teto), convoco todos os militantes a agir, agora.
Participar ativamente na escolha destes órgãos, bem como no rumo a seguir pelo CDS. Não é só abanar bandeiras, o partido é nosso. Todos por um bem comum, pelo que nos une, e acabar com este ambiente de guerrilha constante. As famosas bases, de que todos os líderes falam, precisam de palco. Agir agora, com eleições diretas, antes que seja tarde.
Defendo hoje como sempre defendi um partido aberto a toda a gente, que não pergunta a ninguém onde é que esteve, mas sim a qualquer um para onde é que quer ir, garantindo que juntos temos essa força porque somos a soma que dá um. Um todo que é maior que a soma das partes.
É por tudo isto, por considerar que ainda há espaço político ideológico para o CDS-PP, e sobretudo por considerar que o eleitorado verdadeira e genuinamente conservador está órfão de representação decente há muito tempo, que apresentarei uma Moção de Estratégia Global ao próximo Congresso do CDS-PP, em que sou primeiro subscritor somente como garante de que essas bases terão voz no púlpito magno desta nossa casa para o País. Com cabeças de dentro do partido, e com pessoas independentes vindas diretamente da academia e da sociedade civil.
Somos a soma que dá um para pensar o partido e para reformar o país. Uma ideia de futuro e a longo prazo para o partido de militantes para militantes, mas sobretudo uma visão global para o país de eleitores para eleitores.