por Aristóteles Drummond
O ministro Paulo Guedes passa por um momento difícil. Em pleno ano eleitoral, com o favoritismo de Lula da Silva, que vem declarando que vai rever privatizações e concessões de estradas, portos e ferrovias, ele afirma que o Brasil é «um porto seguro» para investidores. Na verdade, apesar de uma economia robusta, lastreada em reservas em moedas entre as maiores do mundo, a eleição de Lula vai provocar crise de confiança. E a reeleição de Bolsonaro dá a certeza de que a inflação, por suas despesas populistas, fugirá ao controle. Logo, na teoria, não é momento de falar em «porto seguro», mas se buscar uma alternativa confiável. Compromisso dos candidatos Lula e Bolsonaro não vale, pois ambos não cumpriram o que prometeram e são mal cercados. Na eleição de Tancredo, pelo Parlamento, o então senador Roberto Campos, notável brasileiro, enviou uma carta ao amigo explicando os motivos pelos quais votaria em Maluf e não nele. Resumindo, Campos disse que sabia que, com as companhias de campanha, o presidente eleito que adoeceu no dia da posse não poderia ser responsável na economia, mesmo que constrangido. Não se governa sem atender às forças que levaram os governantes à vitória. No Brasil de hoje, os mais cotados estão muito mal acompanhados.
O Presidente abalou a Bolsa, com a queda das ações da Petrobras, em função de ter defendido subsídio para os combustíveis, que na verdade seria subsídio a suas pretensões eleitorais. No Brasil a gasolina e o diesel não sofreram aumentos há mais de cinquenta dias. Uma das teses seria menor distribuição de dividendos. Confisco, portanto.
VARIEDADES
• Nestes tempos de intolerância, Lula da Silva enfrenta o chamado ‘fogo amigo’ com parte do PT se negando a aceitar a aliança com o centro, dando a vice-presidência a Geraldo Alkmin. Dois ex-Presidentes do partido comandam os protestos.
• Depois de imenso sucesso no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, a exposição de Maria Martins chega ao Rio, na Casa Roberto Marinho. Maria Martins foi artista plástica, embaixatriz do Brasil em Washington e Paris, nos anos 1940 e muito presente em Nova York, como em Paris, no mundo da arte. Curioso é que o MASP e a Casa Roberto Marinho levam os nomes de grandes comandantes da mídia no Brasil.
• Romaria de políticos, magistrados, na posse do novo embaixador do Brasil em Lisboa esta semana. A maioria vem com despesas pagas pelo Estado, sob diferentes pretextos. Alguns apelaram para o ‘stop over’ da TAP.
• Um quarto das famílias brasileiras têm dívidas em atraso. A inadimplência é responsável pelos altos juros cobrados no Brasil.
• Bolsonaro quer assinar decreto tornando epidemia a pandemia. E o presidente da Câmara do Rio e Janeiro aboliu o uso de máscaras. O importante é que a pandemia vai cedendo, apesar de aumento de casos em função do carnaval.
• A Zona Franca de Manaus, que emprega mais de cem mil trabalhadores e é o maior empregador da região amazónica, está sob ameaça. A produção local é de motocicletas – a maior fábrica da Honda fora do Japão –, eletrodomésticos em geral, sendo a quase totalidade da produção de televisores no Brasil e o xarope para a produção da Coca-Cola na América Latina. Politicamente será um desastre. Inacreditável!
• Mais um caso que provoca suspeição pela ação do Judiciário no Brasil envolve a tutela da empresária Anita Harley, com uma fortuna estimada em 400 milhões de euros. O juiz afastou a procuradora encarregada de cuidar de seu tratamento e manutenção em caso de perda de consciência e nomeou um advogado desconhecido da família, da empresa, com salário de dois mil e duzentos euros aproximadamente. O advogado tratou de mudar médicos e a controlar todos os recursos da empresária. A procuradora indicada por ela, antes de adoecer, era seu braço direito na direção das Lojas Pernambucanas, com quase 500 estabelecimentos no Brasil. Anita vive em São Paulo, de família pernambucana, não casou e não tem filhos.
• Outros casos de grandes dimensões e contas suspeitas envolvem os indicados para administrar empresas em recuperação judicial. Uma verdadeira máfia, dizem os advogados. E o fenómeno parece mundial.