As equipas levaram ao extremo a letra do novo regulamento e apresentaram carros completamente diferentes. O trabalho de casa é bastante vistoso, falta saber o que valem em pista os novos monolugares, mas pelo que se viu nos testes de pré-época a diferença de andamento para os carros do ano passado é menor do que se esperava, e a margem para evoluir é enorme. É uma revolução de estilo sem precedentes com o objetivo de facilitar as ultrapassagens e proporcionar mais lutas roda com roda. Se as previsões não falharem (como falharam em outros regulamentos) as corridas deverão ser menos previsíveis e haverá mais pilotos e equipas a lutar pela vitória.
Os monolugares de 2022 destacam-se pela gigantesca asa dianteira, deflectores nas rodas da frente, elaborado aileron traseiro e enorme extrator posterior. A ideia dos responsáveis da FIA foi diminuir a influência das asas dianteira e traseira e aumentar a aderência através do efeito de solo. Na verdade, o aspeto mais importante do novo regulamento é o complexo fundo plano com dois túneis Venturi que geram o chamado efeito de solo– fenómeno aerodinâmico introduzido pela Lotus do genial Colin Chapman em 1977 – que deixa os carros literalmente os carros à pista. Quarenta anos depois de ter sido banido da Fórmula 1 por questões de segurança, o efeito de solo regressa para salvar a modalidade.
Segundo os responsáveis da FIA, o novo package aerodinâmico diminui a turbulência do ar que afeta o carro que vem atrás e permite aos pilotos andarem mais próximos uns dos outros e ultrapassar com mais facilidade. A título de exemplo, em 2021, o carro que seguia 10 metros atrás perdia 46 por cento apoio aerodinâmico, em 2022 perde apenas 18 por cento. Em teoria, estão reunidas as condições para termos uma temporada mais aberta e espetacular.
CAMPEÃO APROVA No final dos testes de pré-época, Max Verstappen mostrou-se satisfeito. “Parece-me ser um pouco mais fácil andar atrás de outros carros. Não senti a estranha da perda de downforce e a condução fica mais sob controle”, referiu o campeão do Mundo.
Outra das grandes mudanças para 2022 são as jantes de maior dimensão (passam de 13 para 18 polegadas). “Os pneus são um pouco maiores e a visibilidade é diferente. Em circuitos tradicionais não é problema, mas em pistas citadinas vai ser mais complicado”, disse Verstappen. Os pneus Pirelli deste ano têm novas misturas e um perfil mais baixo, o que torna os carros mais rígidos e a condução mais trabalhosa. Além disso, resistem melhor ao sobreaquecimento, permitindo aos pilotos andar mais tempo no limite.
A segurança é aspeto fundamental na conceção dos novos monolugares. Para serem homologados, os chassis são submetidos a testes de colisão frontal e traseira bastante mais exigentes.
No capítulo mecânico não há grandes alterações, os novos motores só aparecerão em 2025. As equipas continuam a usar o bloco V6 1.6 turbo-híbrido, e passa a ser utilizado combustível com 10 por cento de etanol, mais um passo para atingir o objetivo de ter combustível 100 por cento sustentável em 2030.
A FIA impôs também um limite orçamental de 126 milhões de euros a cada equipa, com o objetivo de impedir que orçamentos faraónicos causem enormes desigualdades entre equipas.
Os testes de pré-época realizados em Barcelona e no Bahrain revelaram que os carros são mais rápidos do que o esperado, e o feedback dos pilotos foi positivo. “Todas as equipes foram mais rápidas do que o esperado. O desempenho a alta velocidade está ao nível do que vimos o ano passado, e a capacidade de andar atrás foi melhorada”, disse o novo piloto da Mercedes, George Russell.
OS MESMOS DE SEMPRE O Mundial de 2022 tem 23 Grandes Prémios, Portugal está de fora, mas espreita a oportunidade de tomar o lugar da Rússia, que foi excluída do campeonato. Não é expetável que Red Bull e Mercedes tenham desaprendido de um ano para o outro, pelo que são as principais favoritas. A guerra de palavras já começou, com a equipa austríaca a usar as redes sociais para fazer queixinhas sobre alguns conceitos aerodinâmicos apresentados pela rival. O sinal está dado para batalhas épicas ao longo do ano, desta vez (bem) supervisionadas por um novo diretor de corrida, o português Eduardo Freitas.
Há muito que a Red Bull e a Honda trabalham para dar a Max Verstappen e Sergio Perez o melhor carro possível e consolidar a posição cimeira na Fórmula 1. Nos testes realizados antes da primeira corrida, Max Verstappen realizou o melhor tempo – “não andei no limite nem em condições de qualificação”, disse – e o Red Bull era o carro mais estável e, aparentemente, mais fácil de conduzir.
Ainda mal refeito do choque de ter perdido o mundial de pilotos de forma pouco clara, Lewis Hamilton conta com o poderio tecnológico da Mercedes para chegar ao oitavo título mundial e destronar Michael Schumacher (sete títulos). A equipa alemã conta ainda com George Russell, um piloto jovem e com enorme talento que pode ser a grande surpresa ao volante de um dos Flechas de Prata. A Mercedes tem a melhor dupla de pilotos e uma equipa técnica top, mas não pode repetir os erros de estratégia do ano passado se quiser vencer os dois campeonatos.
O novo regulamento técnico pode ser sinónimo de vida nova para a mítica Ferrari, que mantém Carlos Sainz e Charles Leclerc. O F1 75 é dos carros mais perfeitos dos últimos anos, e mostrou grande consistência nos tempos realizados. “O carro é muito bom de conduzir a alta velocidade devido ao downforce, sinto-me muito confortável”, revelou o piloto espanhol. O francês também gostou da experiência: “Tenho que mudar o estilo de pilotagem, mas é muito interessante descobrir coisas diferentes.” Os tifosi podem aceitar que a Scuderia não seja campeã do Mundo, mas não vão perdoar que fique mais um ano sem vencer corridas.
A McLaren tem uma organização muito competente e está mais rápida e competitiva. O trabalho de fundo, a parceria com a Mercedes (fornecedora de motores) e a rapidez de Lando Norris e Daniel Ricciardo podem dar bons resultados este ano.