Há dois anos, a tradicional festa do dia do pai na escola já estava marcada quando entrámos no primeiro e maior confinamento da pandemia. No ano seguinte, a escola voltou a estar fechada nessa altura. E este ano, quando já estava tudo preparado para a desforra, com o programa e convites feitos, a Unidade de Saúde Pública a que pertence a escola dos meus filhos recomendou o cancelamento da festa, na véspera da data marcada, devido a quatro casos de covid.
Os pais iriam participar na festa ao ar livre e de máscara. As crianças andavam entusiasmadíssimas e não falavam de outra coisa. Contavam os dias para o grande evento, faziam segredo do que se ia passar e volta e meia lá deixavam escapar um ou outro pormenor. Era uma festa preparada com carinho e dedicação. Para eles era importante. Além de tudo, finalmente iriam poder receber os pais na escola. Mas a Unidade de Saúde Pública decidiu ser desmancha-prazeres e fazer mais esta desfeita às crianças. Parece mentira. Ainda mais quando há aglomerados de pessoas, sem quaisquer restrições, por todo o lado. Mas é verdade. O que me faz pensar que, embora ande na boca de todos, ainda ninguém percebeu bem o que é e de onde vem a saúde mental, que continua a ser o parente pobre da saúde.
Cientes do pouco tempo que alguns pais conseguem dispensar aos filhos e da importância desses momentos, a escola tem tido um papel importante em tornar o dia do pai um dia especial em que se faz uma pausa para brindar essa relação. As crianças sentem que podem retribuir os presentes que os pais lhes oferecem com um presente a sério e original feito com empenho ao longo de alguns dias na escola. E sobretudo que os podem receber na sua segunda casa, no seu espaço, que muitas vezes os pais mal conhecem, com ideias de jogos e brincadeiras que eles idealizaram e organizaram para aproveitarem o tempo juntos de forma divertida, sem interferências. Em que os pais podem estar descontraidamente e em exclusividade com os seus filhos. Que muitas vezes é uma coisa rara, e que para alguns só acontece nesse dia.
Foi uma pena que pelo terceiro ano consecutivo esta festa não se realizasse. Sobretudo quando a expectativa era tanta. Pode ser que seja adiada para um dia mais propício. Como tantas outras coisas que os mais pequenos continuam a ter esperança de ainda fazer na escola ‘quando já não houver covid’. Felizmente este ano o dia do pai calha a um sábado e quem não pode aproveitar a festa na escola pode criar a sua própria festa e de preferência repeti-la várias vezes ao longo do ano. Sem restrições. Porque na relação entre pai e filho, que deve ser das mais especiais que temos, quanto mais tempo e menos restrições houver melhor.