Para quem é um frequentador assíduo das redes sociais, em especial do Tik Tok, será difícil ainda não se ter cruzado com a coreografia que acompanha o videoclipe da música Envolver, lançada em novembro de 2021, da artista brasileira Anitta, que tem sido reproduzida milhares de vezes por admiradores espalhados por todo o mundo. De repente, a cantora apoia as mãos no chão, empina o tronco e, enquanto se sustenta com os braços no solo, rebola a “bunda”. Em vídeos que vão do Japão ao Havai, pessoas de todas as idades têm tentado imitá-la, publicando as suas performances nas redes sociais, o que fez com que a canção da carioca de 28 anos tenha atingido, no último fim de semana, o top 10 mundial da plataforma de streaming, Spotify.
Mas se no domingo esta era a sexta música mais ouvida na plataforma, ontem a canção aparecia como a quinta mais ouvida em todo o mundo. Este é um feito inédito entre artistas brasileiros. No YouTube, o videoclipe, dirigido pela própria Anitta e produzido por Harold Jimenez, já ultrapassou os 63 milhões de visualizações – e continua a subir. E, ao contrário do que se possa pensar, este é videooclip mais simples entre as últimas produções lançadas pela artista: com um baixo custo, o vídeo aposta mais na coreografia que a cantora realiza ao lado do modelo marroquino Ayoub. O recorde anterior de Anitta era com Vai Malandra, que chegou ao 18º lugar mundial. Envolver também está no Top 50 de todos os países da América Latina e na 2ª posição no Brasil. De acordo com dados do Spotify, mais da metade dos ouvintes da canção são de fora do Brasil.
A verdade é que, ao perceber o fenómeno digital criado após o lançamento da música, a própria cantora tem incentivado os fãs a dar-lhe gás. Em países hispano-americanos, o termo “El paso de Anitta” tem-se tornado mesmo uma das palavras mais digitadas na internet. Interrogada pela Globo sobre o segredo desde sucesso, a cantora falou de “inteligência” e excluiu a palavra “sorte”: “Existe uma inteligência por trás. Cada lançamento tem sua estratégia. Com Envolver não foi diferente. Foi feito muito investimento de tempo em criação, divulgação, planos de marketing. Fico muito feliz que o resultado esteja sendo colhido”, revelou. A canção foi escrita também pela artista em parceria com os colegas hispano-americanos Julio M. Gonzales Tavarez, Freddy Montalvo e José Carlos Cruz.
Quem olha para o sucesso talvez não acredite que a música esteve quase para ficar “na gaveta”. A gravadora Warner Records, responsável pela gestão da obra da funkeira, resistiu em levar a letra para os estúdios. “Disseram que a música não iria a lugar nenhum e que eu não teria força para lançar isso sozinha”, contou Anitta no Instagram.
Marcelo Castello Branco, CEO da União Brasileira de Compositores (UBC), que integrou o conselho diretivo do Grammy Latino e participou no desenvolvimento das carreiras de nomes como Caetano Veloso, Marisa Monte e Ivete Sangalo, disse à Globo que “a análise deste caso de sucesso tem de ser feita sobre a determinação da artista”. “Este não é o resultado de uma música só. É a consequência de um trabalho feito há cinco anos”, frisou. “Geralmente, o artista brasileiro acredita que fazer sucesso no exterior é realizar uma turnê lá fora para a comunidade brasileira. Esse exemplo a gente já viu várias vezes. Com um trabalho consistente, Anitta foi além e quis entender onde estava pisando, investindo tempo e conhecimento nisso, além da construção de redes. Nos meus quase 40 anos de carreira, nunca vi alguém se jogar dessa maneira. Anitta é a primeira superstar brasileira global da era das redes sociais, uma Carmen Miranda digital”, defendeu o especialista.
Em abril, Anitta lançará um novo disco, intitulado Girl from Rio. Em 2020, a Netflix disponibilizou o documentário Anitta: Made In Honório, onde é possível acompanhar a rotina da artista, tanto pessoal como profissional, e onde fica claro que esta controla obsessivamente todos os seus projetos, todos os pormenores dos seus espetáculos. Segundo o documentário, Anitta não é apenas uma artista, mais sim uma “grande empreendedora”.