Tropas ucranianas celebraram avanços em Makariv, nos subúrbios a oeste de Kiev, onde voltaram a ser içadas bandeiras da Ucrânia, bloqueando as tentativas russas de cercar a capital, por agora. Após semanas a recuar, mas fazendo o Kremlin pagar por cada quilómetro de terreno conquistado, os ucranianos anunciaram vários contra-ataques, inclusive até nos arredores de Kherson, a primeira grande cidade tomada pelos russos, que parecem estar a reagrupar para tentar recuperar a iniciativa. Ao mesmo tempo que apostam cada vez mais em barragens massivas de artilharia, mísseis e bombardeamentos, para arrasar os defensores à distância.
Tudo indica que o Kremlin está a mudar de estratégia. Nos primeiros dias da invasão – provavelmente na expectativa que o Governo ucraniano caísse rapidamente – atirou colunas ligeiras, sem grande apoio, contra Kiev e Kharkov que foram repelidas. Depois optou por avanço simultâneo de grandes unidades blindadas, vindas de várias direções, que foram sendo emboscados com recurso aos potentes lança-mísseis de ombro oferecidos pela NATO.
Perante este impasse, as forças russas até já começaram a retirar os seus helicópteros do aeroporto de Kherson, mostram imagens de satélite da Planet Labs, obtidas na terça-feira pelo New York Times.
Dado que “os russos visivelmente falharam em tomar a Ucrânia inteira a partir de múltiplos pontos de avanço”, apontou Justin Bronk, investigador do Royal United Services Institute, à BBC, “agora, eles estão a tentar recuar os seus recursos, a consolidá-los e concentrá-los numa ofensiva de cada vez. Particularmente em Mariupol e no sul”, explicou. Trata-se de uma cidade portuária crucial para controlar o mar de Azov, que em tempos foi o grande pólo industrial da Ucrânia. Hoje, é um ruína fumegante, cercada, devastada por bombardeamentos e com forças russas em combate urbano lá dentro.
Caso o Kremlin tome a cidade, poderá enviar boas parte das forças lá colocadas para outros teatros de operações. Incluindo para a retaguarda do Joint Forces Operation (JFO), onde estão o grosso dos ativos militares ucranianos, posicionados na linha da frente contra os separatistas de Donbass.
Se a tragédia de Mariupol já chocou o mundo, deveremos ver outras cidades ucranianas no futuro a passar pelo mesmo. As forças russas surpreenderam ao destruir cirurgicamente alvos militares nos primeiros momentos da sua invasão, mas desde então estima-se que estejam a esgotar o seu stock de armas de precisão, difíceis de substituir, o que dá azo a mais bombardeamentos indiscriminados.
“Eles estão a começar a enfrentar problemas de inventário com munições guiadas de precisão”, frisou um dirigente do Pentágono ao Financial Times. “É uma razão por que estamos a ver o crescente uso daquilo a que chamariamos bombas burras”.