Este é um marco histórico na investigação científica. Pela primeira vez, um homem que sofre de ELA (esclerose lateral amiotrófica) – doença degenerativa que vitimou o físico britânico Stephen Hawking – voltou a construir palavras e frases com a ajuda de dois implantes no cérebro. O paciente está totalmente paralisado, não consegue comunicar e é incapaz de movimentar qualquer músculo do corpo de forma voluntária, inclusive os olhos.
Mas agora, segundo o estudo publicado na passada terça-feira, no jornal científico Nature Communications, é possível que este dê ordens a um computador, “de modo a processar palavras e frases indicadoras dos seus desejos e necessidades, só através da força do pensamento”. O homem de 36 anos, é também capaz de construir frases por via de respostas do tipo “sim” ou “não”, em reação ao som de cada letra.
De acordo com a mesma publicação, o paciente que foi diagnosticado aos 30 anos, deu autorização à cirurgia ao seu cérebro em 2018, numa fase da evolução da ELA em que ainda conseguia comunicar através do movimento efetivo dos olhos. Em poucos meses, deixou de conseguir andar e falar e, em menos de um ano, ficou dependente de um ventilador para respirar.
A cirurgia para implantar os dois chips no cérebro, foi realizada em 2019 e durante os testes que se seguiram foi pedido ao cidadão alemão, por exemplo, “que imaginasse movimentos com as mãos ou a língua, de forma a gerar estímulos elétricos distintos para cada uma das duas respostas possíveis, sem sucesso”. Contudo, segundo o jornal científico, quando começou a projetar movimentos com os olhos, “as palavras começaram a formar-se”.
Foi o próprio paciente quem informou a equipa de investigadores que estava a imaginar movimentos com os olhos para transmitir as mensagens. Sopa de ervilhas e de goulash (húngara) foram dos primeiros pedidos. Seguiu-se o pedido de uma cerveja, uma massagem na cabeça e a manifestação de amor pelo filho.
Porém, com o passar do tempo, o paciente tem vindo a sentir maiores dificuldades para comunicar, sem que os motivos estejam determinados. Apesar disso, segundo a comunidade científica este caso “cria a expectativa de poder abrir caminho a um novo método de comunicação a pessoas que não o conseguem estabelecer”.