Comunidades resilientes

Resiliência é uma palavra que invadiu o vocabulário moderno mas tem origem antiga (do latim, de resilo, resilire, na área da mecânica). 

Por Artur Fernandes Costa, docente da Universidade Lusófona (Porto)

Em tempos em que a palavra segurança assume novos contornos, somos confrontados com a nossa fragilidade individual e coletiva, mas também com os nossas próprias decisões. Vivemos numa sociedade de risco, diz-se, onde a convivência com os perigos não é nova. Nova é a circunstância de muitos dos riscos que hoje mais nos ameaçam não resultarem de fenómenos que não controlamos mas terem origem antrópica, ou seja, resultarem das nossas próprias ações.

Vem isto a propósito de um debate recente onde uma socióloga, investigadora das problemáticas do risco e da resiliência, e um físico teórico que, entre outros, também estuda o Sistema Terrestre, refletiram sobre a emergência dos novos perigos decorrentes das grandes alterações globais que afetam o nosso planeta. Sob o tema da Comunicação e Perceção do Risco na formação de comportamentos sociais responsáveis, falou-se do Antropoceno e o mais ouvido foi resiliência associada a uma ideia forte, a da criação de comunidades resilientes.

Resiliência é uma palavra que invadiu o vocabulário moderno mas tem origem antiga (do latim, de resilo, resilire, na área da mecânica). Hoje usada em muitas áreas do conhecimento, na Ciência dos Desastres, por exemplo, ela definirá a capacidade de um (eco)sistema conseguir superar as consequências de um desastre, resistindo-lhe e recuperando depois com o mínimo de danos podendo (e devendo), naturalmente, ser aprofundada. 

Desde logo, através da comunicação e da informação, pois uma sociedade desinformada nunca estará preparada para os desafios que tem que vencer. Depois, com mobilização e comprometimento para que algo aconteça. Finalmente, através de ações globais, do Estado, ao lado da ação local, do cidadão, num modelo ‘glocal’ gerador sinergias para que 1+1 seja mais do que dois. Assim, comunidades locais mais resilientes, com os seus pequenos gestos, aliadas em redes de comunidades numa escala que alcance um país ou o Planeta, farão a diferença perante os novos desafios. E aí, a contribuição de cada indivíduo será decisiva.

Entretanto, a realidade de uma guerra a que assistimos com espanto vem demonstrar que resiliência inclui outros conceitos e valores, nomeadamente os valores da solidariedade e da ajuda. A resiliência de uma comunidade (aldeia, cidade ou país), afinal, também depende das outras comunidades e da sua capacidade de lhe prestarem socorro em situações de necessidade. E estas são também variáveis a trabalhar.