Ainda a estalada… Academia pondera as consequências para Will Smith

Instituição que tutela os Óscares já condenou a agressão e continua a avaliar se deve ou não expulsar Will Smith, como expulsou Harvey Weinstein em 2017.

Depois da tempestade mediática desencadeada pela cerimónia dos Óscares, que decorreu este domingo, com a agressão de Will Smith a Chris Rock, o galardoado com o Óscar de Melhor Ator publicou no instagram um pedido de desculpas ao humorista.

“A violência em todas as suas formas é tóxica e destrutiva. O meu comportamento nos Óscares de ontem à noite foi inaceitável e imperdoável. Piadas às minhas custas fazem parte do trabalho, mas uma piada sobre a condição médica da Jada foi demais para mim e reagi emocionalmente”, escreveu o ator. “Gostaria de pedir desculpas publicamente a ti, Chris [Rock]. Passei dos limites e estava errado. Estou envergonhado e os meus atos não foram representativos do homem que quero ser. Não há lugar para violência num mundo de amor e bondade”. Depois de já ter pedido desculpa durante a cerimónia, acrescentava um pedido de desculpas aos membros da Academia.

“Também quero pedir desculpas à Academia, aos produtores do espetáculo, aos participantes e a todos os espetadores que assistiram em todo o mundo. Queria pedir desculpas à Família Williams e à minha Família ‘King Richard’. Lamento profundamente que o meu comportamento tenha manchado o que de outra forma tem sido uma jornada maravilhosa para todos nós”. Smith concluía a mensagem confessando que este é “um trabalho em curso”.

A declaração do ator que protagonizo filmes populares como Homens de Negro ou Esquadrão Suicida surge numa altura em que a Academia anunciou que está a ponderar as ações de Smith após ter condenado a sua agressão.

“A Academia condena as ações do Sr. Smith no evento da noite passada”, podia ler-se no comunicado. “Iniciámos oficialmente uma revisão formal em torno do incidente e exploraremos outras ações e consequências de acordo com os nossos Estatutos, Padrões de Conduta e a lei da Califórnia.”

O comunicado acrescentava que esta declaração era divulgada depois de terem surgido novos relatos dos funcionários da Academia que estavam a “considerar seriamente” retirar o ator da cerimónia depois da agressão e da categoria de Melhor Ator, a qual acabou por vencer, ser anunciada.

É raro, mas não sem precedentes, que a Academia revogue a adesão de um dos seus membros, por exemplo, o produtor Harvey Weinstein foi expulso em 2017 depois de mais de três dúzias de mulheres o acusarem de agressão sexual. Weinstein foi condenado a mais de 20 anos de prisão em março de 2020 depois de ser considerado culpado de violação e outros crimes sexuais.

Contudo, nem sempre a Academia tem aplicado esta sua “mão dura”, como o caso do cineasta Roman Polanski, que venceu o seu primeiro Óscar em 2003, na categoria de Melhor Realizador pelo seu trabalho no filme O Pianista, e não compareceu na cerimónia uma vez que se encontra exilado na Polónia depois de ter sido acusado de violar sexualmente uma menor de idade.

Em ambos os casos, nem Polanski nem Weinstein, que também ganhou um Óscar por ser produtor de A_Paixão de Shakespeare (1998), tiveram que devolver as estatuetas.

Em relação aos problemas legais, não é claro que Smith possa vir a enfrentar novas consequências, uma vez que, segundo o departamento policial de Los Angeles, Chris Rock não quis apresentar queixas sobre a agressão. Entretanto, o próprio humorista confessou que não sabia que Pinkett Smith sofria de uma doença que a obrigou a ter a cabeça rapada.

Antes de entregar o Prémio de Melhor Documentário, Rock fazia o típico “roast” aos convidados, comparando a aparência de Pinkett Smith, que tem o cabelo rapado devido a uma doença autoimune que afeta o couro cabeludo, alopecia areata, à de Demi Moore em GI Jane, filme de 1997 que tem como protagonista uma mulher soldado. O humorista afirmou estar ansioso por ver Pinkett Smith em GI Jane 2.

Apesar de num primeiro momento Will Smith se ter rido da piada, a expressão da atriz de 50 anos pareceu demonstrar desconforto. A imagem corta para Rock a falar em palco até que se vê o protagonista de King Richard, filme sobre Richard Williams, pai de Venus e Serena Williams, a dirigir-se até ao humorista e a dar-lhe um estalo. “Era só uma piada sobre a GI Jane”, disse o apresentador atónito.

“Tira o nome da minha mulher da tua boca suja”, gritou Smith, enquanto ao seu redor todos observavam em silêncio.

A forma como Smith lidou com a situação dividiu opiniões. “Sei que ainda estamos todos a processar o que aconteceu, mas a forma como a violência casual foi normalizada hoje à noite por uma audiência nacional coletiva terá consequências que nem poderemos imaginar neste momento”, escreveu a presidente e diretora-conselheira do Fundo de Defesa Legal da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, Janai Nelson, no Twitter.

 

Passado dos atores

Esta não foi a primeira vez que Chris Rock gozou com o casal, junto desde 1997 e com dois filhos, durante uma cerimónia dos Óscares. Em 2016, ano em que a edição dos Óscares ficou conhecida pelo movimento #OscarsSoWhite, inúmeros atores e ativistas acusaram a cerimónia de falta de representação e personalidades como Spike Lee e Jada Pinkett Smith acabaram por boicotar o certame.

Rock foi convidado para apresentar a cerimónia e, apesar de ter sido aconselhado a abandonar esta responsabilidade, acabou por aceitar e um dos alvos das suas piadas foi Pinkett Smith (com quem contracenou no filme Madagáscar, com Rock a oferecer a voz a Marty, a Zebra, e Jada e Gloria, a hipopótama).

“Jada boicotar o Óscar é como eu boicotar as cuecas da Rihanna”, gracejou Rock. “Não fui convidado”.

Apesar de condenar a forma como Smith partiu para a violência, houve também quem tivesse condenado a piada de Rock. A atriz Sophia Bush emitiu um juízo salomónico. “Esta é a segunda vez que o Chris Rock faz piadas com a Jada numa cerimónia dos Óscares e, nesta noite, gozou com o facto de sofrer alopecia. Gozar com as doenças autoimunes de alguém é errado e fazê-lo de propósito é cruel. Ambos estiveram mal”, tweetou.