Russos prometem diminuir ataques à volta de Kiev

A dúvida é se esta promessa, feita durante as negociações em Istambul, foi feita por boa vontade ou porque o cerco falhou. 

Há condições suficientes para um encontro entre Vladimir Putin e Volodymyr Zelenskiy, já num futuro próximo, assumiram negociadores russos e ucranianos, que se encontraram em Istambul. As negociações mediadas pela Turquia – onde marcou presença o bilionário russo Roman Abramovich, no dia após ser noticiado que sofria de sintomas de envenenamento (ver texto ao lado) – finalmente mostram alguns avanços, com o Kremlin a prometer reduzir drasticamente a sua atividade militar a norte de Kiev e em Chernihiv.

Esta última cidade, que fica a meio caminho entre a Rússia e o leste da capital, virou um “inferno”, descreveram algumas das pessoas lá cercadas – calcula-se que sejam 150 mil pessoas – à Sky News. Ao longo das últimas semanas ficaram sem acesso a água, comida, medicamentos ou eletricidade, vivendo enclausuradas em abrigos sob bombardeamentos constantes. Enquanto Chernihiv, conhecida pela beleza das suas igrejas ortodoxas, herança do Rus de Kiev ou dos cossacos, era despedaçada. 

 Se a promessa do Kremlin de reduzir as operações no norte da capital foi devido a um súbito impulso misericordioso, ou porque as suas tentativas de cercar Kiev foram travadas, preferindo então focar-se no sul, no que pouco que resta de Mariupol, e no leste, em Donbass, é uma questão por responder.

Contudo, desde a semana passada que a inteligência ucraniana, assim como imagens de satélite e analistas, apontam que as tropas russas estejam a entrincheirar-se nos arredores da capital, sobretudo no leste, indicando uma postura mais defensiva na região. Talvez como resposta aos contra-ataques lançados por forças ucranianas, que anunciaram terem retomado território nos subúrbios de Kiev, em Irpin, Makariv, Hostomel e Bucha.

Para o vice-ministro da Defesa russo, Alexander Fomin, esta oferta do Kremlin em diminuir a atividade militar na região tem como objetivo “aumentar a confiança mútua, criando as condições certas para futuras negociações e para chegar ao objetivo final de assinar um acordo de paz”, explicou, numa conferência de imprensa, aproveitando para saudar ambos os lados por terem passado as negociações para um “campo prático”.

Já Washington mantém as suas reticências quanto à boa vontade do Kremlin em negociar. “Há o que a Rússia diz e o que a Rússia faz. Estamos focados neste último”, realçou o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, comentando o anunciado em Istambul. 

“Não vimos nada que sugira que isto está a avançar de uma forma eficaz, porque ainda não vimos sinais de seriedade real”, declarou à CNN. “Se eles de alguma maneira acham que um esforço para subjugar ‘apenas’ a parte leste e sul da Ucrânia pode ser bem sucedido, então mais uma vez estão a enganar-se profundamente a eles mesmos”, rematou o secretário de Estado. Acrescentando que os ucranianos estavam a negociar “literalmente com uma arma apontada às suas cabeças”.

Mesmo quando as negociações decorriam em Istambul, os bombardeamentos russos prosseguiam. Um deles atingiu um edifício do governo regional de Mykolaiv – uma cidade no sul da Ucrânia, contra a qual os russos têm lançado sucessivas ofensivas, de maneira a abrir caminho até Odessa, sabendo que um assalto anfíbio a esta cidade estratégica dificilmente será bem sucedido sem apoio terrestre – fazendo sete mortos e 22 feridos, anunciou Zelensky em videoconferência, perante o Parlamento dinamarquês, durante mais um pedido de auxílio internacional. As equipas de resgate de Mykolaiv “ainda estão a vasculhar os destroços”, relatou o Presidente ucraniano.