Shalom! A paz esteja convosco!

Trava-se um combate entre a vida e a morte de Cristo, mas, também, entre a vida e a morte de cada um de nós concretamente. A Ressurreição de Cristo como que relativiza todas as nossas prioridades e ressuscita as nossas vidas mortas, ilumina a escuridão mais interior de nós mesmos e faz-nos experimentar, já hoje,…

Num tempo de guerra, como este que estamos a viver, não será demais pensar no significado da Páscoa que estamos a celebrar. Num dos hinos do dia de Páscoa (Sequência Pascal), diz-se a certa altura que a «a morte a vida travaram um duelo» e, de facto, assim tem sido desde o princípio da humanidade. Cristo, contudo, travou a batalha final e venceu a morte, ressuscitando para sempre. Todos aqueles que acreditarem nele e receberem o batismo, diz Jesus, ressuscitarão com ele e terão a vida eterna.

Este parece ser apenas um discurso poético sobre o duelo que se trava na vida humana e que, eufemisticamente, poderia significar um combate do final da nossa vida. Muitos pensam que receberão a vida eterna quando morrerem e no fim dos tempos ressuscitarão incorruptíveis (o que não deixam de ser verdade). No entanto, a Ressurreição de Jesus ilumina, não apenas o final da nossa vida, mas toda a nossa vida, isto é, aquele acontecimento iluminou toda a história que está para trás até ao nosso pai Adão e toda a história que se desenrola até ao final dos tempos.

Trava-se um combate entre a vida e a morte de Cristo, mas, também, entre a vida e a morte de cada um de nós concretamente. A Ressurreição de Cristo como que relativiza todas as nossas prioridades e ressuscita as nossas vidas mortas, ilumina a escuridão mais interior de nós mesmos e faz-nos experimentar, já hoje, a vida eterna. E esta vida eterna não a tocamos apenas no final da nossa vida, porque ela manifestou-se na terra e nós vimos a sua glória.

É este mesmo acontecimento que faz derramar sobre todos os ossos mortos da nossa vida um Espírito que dá vida. Aqui os mortos ressuscitarão e os ossos ganharão carne. Será insuflado sobre cada um de nós o Espírito de Cristo e a esperança será restabelecida. Porque é o Espírito de Deus que faz novas todas as coisas. É o Espírito de Deus que nos concederá a paz.

Talvez poucos sabem que os judeus não se cumprimentam uns aos outros com a nossa saudação: «Bom dia!». Os judeus costumam cumprimentar-se com uma saudação muito particular: «Shalom!», que quer dizer A paz»! Por isso, em Israel, quando entramos numa loja ou num restaurante, onde quer que seja, dizemos sempre «Shalom!». É uma sociedade muito curiosa, porque se cumprimentam sempre com esta saudação. Na verdade, os árabes também: «Salam Aleikum» – «A paz de Deus!».

Ora, no próximo domingo, dia de Páscoa, e nos domingos seguintes, os textos que a Igreja nos dará para escutarmos apresentam-nos Jesus a dar esta mesma saudação depois da Ressurreição: «Shalom!»… A paz esteja convosco! Na realidade, é a primeira palavra que ele dá assim que aparece aos discípulos.

É curioso que as profecias do Antigo Testamento anunciavam uma paz do messias, isto é, que nos dias em que viesse o messias haveria uma grande paz até aos confins do mundo. Um dos problemas que os Judeus têm para reconhecer Jesus como messias diz respeito especificamente a isto. Se ele é o messias e se, de facto, Deus já enviou o seu Ungido ao mundo para o salvar, então porque continua a haver guerra e desentendimentos e problemas entre nós. Deveria haver um período de paz.

Este é realmente a questão que se nos coloca todos os dias… se Deus existe, se Jesus é o Messias ungido por Deus para nos salvar, porque assistimos ao sofrimento dos inocentes, à violação das mulheres e das crianças e à morte de milhares de ucranianos? Porquê? Porque se matam uns aos outros tendo, ainda por cima, a mesma fé, o mesmo Deus?

Precisamos todos de entrar dentro do mistério de Jesus Cristo nesta Páscoa para experimentarmos, de verdade, o que significa a paz do messias Jesus, isto é, a Paz dada por Cristo aos seus discípulos! Talvez haja coisas que não compreendamos fora na nossa existência relacional. Se entrarmos na Páscoa podemos perceber o que significa «Shalom».