Com a abertura das matrículas para o 1.º ano, muitos pais de crianças que só fazem os seis anos depois do início das aulas e que têm de decidir se os inscrevem já ou se esperam mais um ano, iniciam semanas de incertezas e às vezes até de alguma angústia. Todos queremos o melhor para os nossos filhos, mas nem sempre é claro perceber qual será a melhor decisão.
Muitas vezes o educador ou psicólogo da escola dá a sua opinião e ajuda, mas a escolha terá de ser sempre dos pais.
Se há crianças de cinco anos que se percebe que não conseguirão estar sentadas um dia inteiro numa carteira na sala de aula e outras extremamente despachadas que não aguentam mais um ano na creche, há muitas outras para quem não é tão óbvio se é melhor avançar ou esperar.
A vida moderna é cada vez mais competitiva e os pais querem que os filhos estejam preparados para ultrapassar todos os obstáculos com facilidade e no fim vencer. Imagino que, pela mesma razão, a escola primária tem sofrido alterações e neste momento no segundo ano já se faz uma iniciação a conteúdos que pertenciam ao programa do terceiro e quarto ano. Mas, paradoxalmente, as crianças são cada vez mais protegidas e mais imaturas, com maior dificuldade de se adaptarem às exigência da ‘escola dos crescidos’.
De ano para ano tem sido menor o número de crianças que entram na escola com cinco anos. Não só pela falta de vagas, mas também por uma mudança de mentalidade. Mas ainda assim muitos pais continuam a ter receio de ‘atrasar’ os filhos.
Um dia destes a mãe de um menino a quem foi diagnosticada uma perturbação do desenvolvimento e que é condicional (ou seja, que só completa os seis anos depois do dia 15 de setembro) pedia conselhos sobre estratégias e equipamentos que facilitassem a permanência do filho na sala de aula no ensino básico. A mim parecia-me óbvia a resposta: o menino devia aproveitar o facto de ser condicional para ficar mais um ano no pré-escolar de forma a brincar mais e amadurecer emocional e cognitivamente. Mas para muitas pessoas ainda existe a ideia de que começar a escola antes vai fazer com que a criança se desenvolva mais depressa. Se começar com cinco anos a fazer coisas de seis ou sete, quando chegar a essa idade estará muito mais avançado. O que não é bem assim. À partida, se uma criança não está preparada, vai ficar sempre para trás – o desenvolvimento é contínuo – e vai ter de fazer um esforço maior para acompanhar as aulas. Não vai dar um salto. Pelo contrário, vai ter de se dedicar mais porque ainda não está ao nível do que lhe é exigido. Como uma fruta colhida antes do tempo. Se for retirada da árvore ainda verde, enquanto se estava a desenvolver, nunca vai ficar tão boa como se tivesse sido colhida na altura certa, já amadurecida pelo sol. É um erro pensar que se perde um ano quando se fica no pré-escolar até aos seis, porque é precisamente o contrário. Nunca se perde por esperar, por ficar mais um ano a brincar, a descobrir, a aprender, a relacionar-se, a consolidar, mas pode perder-se muito por tentar precipitar o desenvolvimento. Quando se espera ganha-se um ano de amadurecimento a todos os níveis que, de outra forma, nunca chegará a existir. E as contas são feitas no final.