Como convencer um comunista ou simples simpatizante de esquerda a votar num candidato associado a uma política de centro ou de extrema-direita? Esta é uma das principais questões do Presidente francês, Emmanuel Macron, e da opositora, Marine Le Pen, que pretendem incentivar os eleitores do candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, a colocar uma cruz junto aos seus nomes nos boletins no domingo.
Depois do debate televisivo entre os dois candidatos da segunda volta das eleições presidenciais francesas, visto por cerca de 15,6 milhões de franceses, o centro de investigação Elabe concluiu, através de um estudo, que 59% acharam Macron mais convincente em comparação com 39% de Le Pen.
Contudo, um dos dados mais relevantes desta sondagem, foi descobrir que entre os apoiantes de Mélenchon, que ficou em terceiro na primeira volta com cerca de 20% dos votos (cerca de 7,7 milhões de eleitores), um eleitorado que pode decidir o destino deste novo exercício democrático, 61% ficaram convencidos com Macron contra 36% de Le Pen.
É complicado perceber o que poderão representar estes números, uma vez que, este domingo, um inquérito concluiu que 67% dos apoiantes do partido França Insubmissa de Mélenchon revelou que não iria votar ou votar em branco ou nulo na segunda volta das eleições.
O líder da esquerda radical francesa apelou ao seu eleitorado para que «não dê um único voto» a Marine Le Pen, mas continuou a não apoiar diretamente Macron.
«Há uma vontade de fazer frente à extrema-direita. Para alguns isto supõe votar em Macron e para outros é impossível dar votos ao Presidente mais desigual da V República, com o qual temos diferenças de fundo, não só táticas», disse o deputado da França Insubmissa Éric Coquerel, à rádio France Info.
Durante a mais recente campanha de Macron, a ecologia passou a ser uma parte importante do seu discurso mediático, anunciando novas políticas que, indicou, multiplicarão as ações ambientalistas nos próximos cinco anos, segundo especialistas, esta foi uma das formas do Presidente francês cortejar o eleitorado de Mélenchon.
O candidato de esquerda não parece estar tão preocupado com o resultado da segunda volta, focando-se naquilo que chamou da «terceira volta», as eleições legislativas marcadas para junho, instando os franceses a votarem no partido França Insubmissa de forma a elegerem-no como primeiro-ministro.
«Eu peço aos franceses que me escolham como primeiro-ministro», votando por uma «maioria de [deputados] insubmissos e de membros da União Popular», afirmou em declaração à BFM-TV.
Mas antes de se preocuparem com quem será o próximo primeiro-ministro, os franceses ainda têm de decidir primeiro quem será o seu Presidente, numa segunda volta que é a reedição da final de 2017. Se já na altura, muitos franceses não se sentiram representados por estes candidatos, quatro anos depois esta sensação permanece a mesma, com diversos protestos a assinalarem o descontentamento pela presença destes dois candidatos no boletim de votos. «Nem Macron nem Le Pen», podia ler-se numa tarja utilizada num protesto em Paris.