por Pedro d´Anunciação
As eleições francesas demonstraram mais uma vez não ser o Poder que desgasta, mas a Oposição (os casos de Sarkozy e Hollande não foram de desgaste do Poder, mas de asneirada da grossa).
Mesmo que muitos dos eleitores de Macron não tivessem nele nenhuma convicção, e pretendessem apenas afastar a inapresentável Marine Le Pen. O mesmo terá sucedido com esta, embora se tenda a pôr no mesmo saco quem está disposto a votar nela. Já se sabe que França, pelo menos desde Pétain, tem uma enorme quantidade de eleitores de extrema-direita, que felizmente não dá para eleger um candidato. Também nos anos 80, Mitarrand terá favorecido a extrema-direita (à qual foi acusado de pertencer quando era novo) para melhor combater os gaullistas. O único populista que até agora foi eleito, e só talvez pudesse ser removido nos EUA, mesmo assim de forma sobressaltada, foi Trump. Mas certamente também não por desgaste, mas por a maioria dos eleitores ter caído em si.
O que podemos dizer se até nós, com um anterior Regime mais recente, temos um tal Ventura, amigo da Le Pen (ainda que felizmente menos inteligente ou pior aconselhado), a meter deputados na AR?
De qualquer modo, já na segunda volta das anteriores eleições francesas, Macron contou com votos pouco convictos. E assim tem de ser, para manter Le Pen afastada. Pelos vistos, Macron nem precisou de ceder ao eleitorado (eu acho que quem está no Poder nunca necessita, porque ou sai ou não sai), e mantém a seca da esquerda e direita (dos partidos tradicionais) consideradas mais democratas e europeias.
Desceu o número de votantes? Mas a sua vitória foi bem expressiva.