Futsal. Três clientes habituais e um francês vindo dos subúrbios

Começa hoje a final-four da Liga dos Campeões de Futsal, em Riga, na Letónia – Sporting-ACCS (16h00) e Benfica-Barcelona (19h00).

É em Riga, capital da Letónia, esta cidade dos edifícios art-nouveu debruçada sobre o Báltico, a lembrar as velhas cidades centro-europeias do Império Austro-Húngaro, maior das urbes dos três países que compõem os Estados Bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia), que se disputa, já a partir de hoje, a final-four da UEFA Futsal Champions League, que junta nas meias-finais e final (e o sempre embirrento jogo para o terceiro e quarto lugares) as melhores equipas do continente ou, pelo menos, as que mais fizeram para receber esse epíteto com a honrosa excepção, já agora, de uma tal de ACCS Asnières Villeneuve 92, só por acaso a equipa cujas cores defende aquele que foi até há bem pouco tempo o melhor jogador da modalidade de todo o planeta redondinho e meio achatado nos pólos: Ricardinho.

Definidas que estão as meias-finais – ACCS-Sporting (pelas 16h00 de Lisboa) e Benfica-Barcelona (pelas 19h00) – resta saber se iremos ter, no dia 1 de Maio, uma final cem por cento portuguesa, algo de absolutamente inédito até agora.

Explique-se, pelo caminho: depois da decisão tomada pelo Comité Executivo da UEFA, que se seguiu ao início da invasão russa da Ucrânia, a equipa francesa foi chamada burocraticamente para substituir o quarto finalista da competição, o MFK Tyumen, suspenso das competições internacionais como todos os seus congéneres russos, e que se qualificara em primeiro no seu grupo da ronda de elite. Desta forma, entrou para o seu lugar a equipa de Ricardinho, que obtivera o segundo lugar desse grupo, e que será a grande novidade desta fase final.

Nascida num bairro social de Villeneuve-la-Garenne, na periferia de Paris, inicialmente conhecida por ACCES (Association Citoyenne, Culturelle, Éducative et Sportive), primeiro clube regional a vencer a Taça de França de Futsal, o actual ACCS Asnières Villeneuve 92 nasceu do sonho de um homem chamado Sami Sellami, o presidente que não teve medo de dizer que ia construir um grupo para lutar pela Liga dos Campeões: “Quand on dit ça, on nous prend pour des fous. Mais on a une ambition démesurée. Dès maintenant on ne se structure pas comme un club de deuxième de division, mais comme celui d’une D1 voire même supérieur à cela”, afirmou em Janeiro de 2018. No ano seguinte, o ACCS subiu à I Divisão. Hoje está aqui, em Riga, e ficaremos a saber se, no jogo frente ao actual campeão europeu, o Sporting, tem mesmo qualidade para pensar a sério no título que nunca esteve tão perto. Para isso conta com um investimento fortíssimo feito quase de um momento para o outro e que permitiu ir buscar o treinador espanhol Sergio Mullor Cabrera e jogadores como os portugueses Ricardinho e Bruno Coelho, o brasileiro Humberto e o internacional espanhol Carlos Ortiz. 

 

já ferve Entram em campo mais logo os dois últimos campeões da Europa e aqueles que ganharam as três últimas edições da Liga dos Campeões, as três primeiras com esta designação – Sporting (2018-19 e 2020-21) e Barcelona (2019-20) – sendo que a última final foi entre ambos, em Almaty, no Cazaquistão. O Barcelona é, aliás, atrás do Inter Movistar (5 títulos), o maior campeão até hoje (3 títulos). O Benfica, seu adversário nas meias-finais, foi campeão em 2010, numa histórica final do Pavilhão Atlântico, ganha precisamente ao Inter, nessa altura com outro patrocínio (3-2), com Ricardinho vestido de encarnado e de águia ao peito. Ricardinho esse, que depois da recente e emocionada despedida da selecção nacional, não se espera que venha a ter o protagonismo que teve, por exemplo, nas duas vitórias decisivas sobre o Sporting nas finais de 2016-17 (7-0) e 2017-18 (5-2). O tempo passou por ele entretanto e a grave lesão que sofreu num tendão de Aquiles diminuiu, e muito, a sua fantástica espontaneidade.

De alguma forma, pode dizer-se que o Sporting chega a Riga como favorito. Tem sido a melhor equipa da Europa nos últimos anos, somou quatro finais nas últimas cinco edições, e tem em Nuno Dias um treinador com uma experiência invejável e com uma intuição competitiva ímpar. Além disso, se houver, de facto, uma final portuguesa, tem sido o grande dominador dos dérbis mais recentes, exceptuando o último, a contar para a primeira fase do campeonato nacional, que terminou com uma vitória encarnada por 3-2. Na Letónia, tudo se decidirá em três dias. Hoje conheceremos os finalistas. Dia 1 de Maio saberemos o nome do novo campeão europeu.