Há mais de 260 anos que Lisboa não sente um sismo de grande magnitude. Ninguém consegue prever quando será o próximo, mas a probabilidade de tal vir a repetir-se e com consequências devastadoras não passa ao lado do consórcio European Facility for Earthquake Hazard and Risk (EFEHR), cujos investigadores alertaram para o facto de a capital portuguesa exibir um nível de risco sísmico acima da média.
Lisboa não é, contudo, a única cidade europeia com razões para temer os efeitos catastróficos de um forte terramoto.
De acordo com o Modelo Europeu de Risco Sísmico de 2020 (ESRM20), apresentado na quinta-feira, as zonas com risco sísmico mais elevado situam-se em áreas urbanas, muitas das quais com um histórico de importantes eventos sísmicos, como por exemplo as cidades de Istambul e Izmir na Turquia, Catânia e Nápoles em Itália, Bucareste na Roménia, e Atenas na Grécia.
Só estes quatro países, apontam os investigadores do EFEHR, poderiam experienciar cerca de 80% das perdas económicas médias anuais estimadas de 7 mil milhões de euros na Europa devido a sismos. No entanto, e tal como Lisboa, cidades como Zagreb (Croácia), Tirana (Albânia), Sófia (Bulgária), Bruxelas (Bélgica) e Basileia (Suíça), também exibem um nível de risco sísmico acima da média, em comparação com cidades menos expostas como Berlim (Alemanha), Londres (Reino Unido) ou Paris (França).
“A recente atualização do modelo de perigosidade sísmica e o primeiro modelo de risco de sísmico para a Europa são a base para a definição e seleção de medidas de mitigação e para tornar as comunidades mais resilientes”, defendem os investigadores, acreditando que estes dois instrumentos “melhoram significativamente o conhecimento sobre as localizações onde é mais provável a ocorrência de fortes eventos sísmicos e dos seus futuros efeitos na Europa”.
No caso do risco sísmico, que descreve as possíveis consequências económicas e humanitárias resultantes de um tremor de terra, o consórcio europeu fez uma avaliação da informação sobre a densidade de edifícios e pessoas, ou seja o nível de exposição de uma cidade, a vulnerabilidade da área edificada e a perigosidade sísmica, incluindo as condições locais do terreno. Entre os principais fatores que contribuem para um risco sísmico elevado, explica o EFEHR, estão os edifícios construídos antes da década de 1980, mais antigos e vulneráveis, áreas urbanas densas e elevados níveis de movimentos do solo.
O Modelo Europeu de Perigosidade Sísmica de 2020 (ESHM20), que vem substituir o modelo anterior de 2013, define a probabilidade de eventos sísmicos futuros, com base no conhecimento de eventos passados, na geologia, ambiente tectónico e nas características do terreno locais.
Segundo os investigadores, as bases de dados incorporadas nesta nova versão do modelo levaram a uma avaliação de perigosidade “mais abrangente”, permitindo que as estimativas de movimentos do terreno fossem ajustadas.
Na maior parte da Europa, a perigosidade sísmica foi reduzida. Mas existem exceções, como por exemplo em regiões no Sul de Portugal e Espanha, bem como no Oeste da Turquia, Grécia, Albânia e Roménia, onde o nível de perigosidade é agora mais elevado. O ESHM20 também confirma que a Turquia, Grécia, Albânia, Itália e Roménia são os países com maior perigosidade sísmica na Europa, seguidos por outros países dos Balcãs.
Apesar de tudo, os especialistas ressalvam que “mesmo em regiões com estimativas baixas ou moderadas de perigosidade sísmica, tremores de terra devastadores podem ocorrer a qualquer momento”.
Pelos cálculos do consórcio, os maiores tremores de terra sentidos na Europa no século XX foram responsáveis por mais de 200 mil mortes e mais de 250 mil milhões de euros em perdas económicas e danos materiais.
Com financiamento do programa Horizonte 2020 da União Europeia, estes dois modelos resultaram de um esforço conjunto de sismólogos, geólogos e engenheiros de toda a Europa, com o apoio de membros do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, da Universidade de Aveiro, e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Esta investigação irá agora ser adotada como base para a segunda geração do Eurocódigo 8, que serve de referência para o desenvolvimento dos modelos nacionais que definem as estratégias de mitigação de risco.