A mulher mais idosa do mundo, a japonesa Kane Tanaka, morreu aos 119 anos e 108 dias num hospital em Fukuoka, cidade onde residia, no dia 19 de abril, confirmaram as autoridades locais na passada segunda-feira. Tinha celebrado o seu 119.º aniversário em janeiro de 2022 e, segundo a família, o seu grande objetivo, que infelizmente não conseguiu concretizar, era chegar aos 120 anos. E se tivesse conseguido viver mais quatro anos ter-se-ia tornado ainda na pessoa mais velha que alguma vez viveu, ultrapassando Jeanne Calment que faleceu em 1997 com 122 anos.
Nascida a 2 de janeiro de 1903 – ano em que os irmãos Wright voaram pela primeira vez e Marie Curie se tornou a primeira mulher a ganhar um Prémio Nobel – na antiga aldeia de Wajiro, que agora faz parte da cidade de Fukuoka, Kane Tanaka tornou-se a japonesa mais velha de sempre quando alcançou a marca dos 117 anos e 261 dias, em setembro de 2020. Mas estava reconhecida desde 2019 pelo Grupo de Investigação em Gerontologoa (GRG, sigla em inglês) e pelo Guinness World Record como a mulher e a pessoa mais velha do mundo. Nessa altura, foi fotografada a fazer um símbolo da paz acompanhada por duas garrafas de Coca-Cola, bebida da qual dizia ser fã. Além disso, era uma grande apreciadora de chocolate e mantinha-se ocupada construindo puzzles de números, como o conhecido Sudoku. A sua rotina diária foi descrita na época. Tanaka acordava às 6 da manhã e passava as tardes a estudar matemática e praticar caligrafia. «Um dos passatempos favoritos de Kane é o jogo de tabuleiro Otelo, no qual se tornou uma especialista, muitas vezes derrotando os funcionários das casas de repouso», escreveu o Guinness.
Uma vida repleta de perdas
Tanaka, que era a sétima filha de um total de nove, casou-se aos 19 anos com um primo, Hideo Tanaka. Viveu em cinco épocas diferentes do Japão (Meiji, Taisho, Showa, Heisei e a atual Reiwa), assistiu a duas Guerras Mundiais e a 49 Jogos Olímpicos (de verão e inverno). Contudo, a sua vida não foi nada fácil, tendo sido marcada por muitas perdas. Em 1937, começou a trabalhar numa loja de noodles após o marido e o filho mais velho terem ido combater na segunda guerra entre o Japão e a China, que terminou apenas em 1945. Apesar disso, o seu filho só regressou a casa dois anos depois, já que acabou por ser capturado e mantido refém na Sibéria. Além desse, a idosa teve mais um filho e duas filhas biológicas, tendo adotado uma terceira. Infelizmente, a filha mais velha morreu pouco depois de nascer e a filha mais nova morreu com um ano, na altura do regresso do irmão da guerra. Nesse mesmo ano, morreu também a filha adotiva, que era sobrinha do seu marido, com uma doença desconhecida, aos 23 anos.
Já há alguns anos que residia num lar de idosos e a sua presença era habitual em artigos japoneses e programas de televisão por ocasião do seu aniversário ou da celebração nacional do Dia do Respeito pelos Idosos. A idosa esteve para transportar a tocha olímpica dos Jogos de Tóquio em 2020, adiados para 2021, mas o agravamento da pandemia no país impediu que esse objetivo se concretizasse.
Depois da sua morte, a freira francesa Lucile Randon, mais conhecida como Irmã André, que hoje tem 118 anos e 74 dias, passou a deter o título de mulher mais velha do mundo. No Japão, Fusa Tatsumi, que possui 115 anos, é a quinta pessoa mais velha do mundo. A verdade é que o número de centenários no Japão tem vindo a aumentar. De acordo com o ministério japonês da saúde, em setembro do ano passado existiam 86,510 cidadãos com 100 anos ou mais, um aumento de 6,060 pessoas comparado com o ano de 2020. E, são precisamente as mulheres que representam a maioria do número. Além disso, a esperança média de vida também é bastante elevada, com 87,74 anos no caso das mulheres e 81,64 no caso dos homens.