Liderada pelo representante do movimento França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais, a esquerda francesa está a firmar acordos para uma aliança, tendo já Mélenchon anunciado que iria unir-se ao partido ecologista Os Verdes, de Yannick Jadot, e aos partidos Socialista e Comunista.
Com este acordo, Mélenchon – que conquistou cerca de 7,7 milhões de votos nas presidenciais, apenas a aproximadamente 500 mil votos do segundo lugar, conquistado por Marine Le Pen, e a 2 milhões de votos de Emmanuel Macron -, os Verdes (1,6 milhões de votos), o Partido Comunista Francês (800 mil votos) e o Partido Socialista (616 mil votos, num desapontante décimo lugar) acordaram em não competir entre si nas eleições que irão decorrer a duas rondas, nos dias 12 e 19 de junho.
Depois das eleições presidenciais para a esquerda francesa, em que viu um candidato de extrema-direita a chegar à segunda volta das eleições, Mélenchon pediu aos franceses para o elegerem como primeiro-ministro, descrevendo a legislativas como a «terceira volta das presidenciais».
«Este é um momento histórico», disse o deputado da França Insubmissa, Adrien Quatennens. Num comunicado, a França Insubmissa e os Verdes afirmaram que pretendem acabar com o discurso «neoliberal» da União Europeia, apontando para um «novo projeto que sirva à construção ecológica e social».
Contudo, este discurso contra a União Europeia está a causar problemas com o Partido Socialista. Segundo escreve o jornal espanhol El País, os socialistas acreditam que aceitar esta aliança supõe «não respeitar certas regras da União Europeia» nas vertentes social, económica e orçamental, uma ideia que não é fácil de assimilar para o Partido Socialista, de matriz e tradição europeísta.
Mélenchon, que chegou a fazer parte do PS francês, abandonou o partido devido à sua posição sobre a UE, uma questão que continua a inquietar este partido que se opõem à visão do candidato que afirma que a França deveria «desobedecer» às regras da UE, incluindo as regulamentações do mercado livre.
Apesar das incertezas, na noite de quinta-feira, o Conselho Nacional do Partido Socialista acabou por aprovar esta aliança, prevalecendo o posicionamento do secretário-geral do partido, Olivier Faure, que insistiu «ser necessário adotar uma posição mais radical contra o programa de centro-direita de Macron», cita o Le Parisien.
Contudo, apesar das conversações para formar a ‘geringonça’ à francesa, segundo as primeiras sondagens uma aliança de esquerda não será suficiente para conquistar a maioria contra o bloco que apoia Macron.
Primeiro de maio marcado pela violência
Milhares de franceses saíram no passado domingo às ruas para celebrar o 1.º de maio, o feriado mais importante do calendário político, marcado pela contestação à liderança de Macron após a sua reeleição. «Sou reformada, trabalhei até aos 65 anos e acho que é demasiado obrigar toda a gente a trabalhar até aos 65 anos. Por isso estou aqui e também porque acho que este é o momento da esquerda se entender. Este é o momento para fazerem alguma coisa todos juntos», pediu uma antiga professora que participou na tradicional manifestação em Paris.
À semelhança do que aconteceu no ano passado, a manifestação do 1.º de maio em Paris, normalmente pacífica, foi perturbada por elementos dos grupos black blocs que não só entraram em conflito com a polícia, que acabou por utilizar gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, como também incendiaram caixotes do lixo e partiram vitrinas de lojas e restaurantes.